O Filho veio nos "últimos
dias", no encerramento dos dias dos profetas. O testemunho de Deus ao
homem, do modo como havia sido apresentado no passado, continuou na Pessoa do
Filho. Os profetas falaram como instrumentos usados pelo Espírito de Deus.
Quando o Filho veio era o próprio Deus falando. Na Pessoa do Filho Deus
aproximou-se dos homens, e o homem pôde aproximar-se de Deus sem a intervenção
de um profeta ou sacerdote. A importância de qualquer coisa que é dita depende
principalmente da grandeza e glória da pessoa que o diz. Deus nos falou na mais
gloriosa Pessoa — o Filho Eterno. A fim de podermos apreender a grandeza
daquele que fala, e assim a importância daquilo que é falado, o Espírito de
Deus nos apresenta uma visão dos sete aspectos da glória do Filho.
1. O Filho como Herdeiro de
todas as coisas. Filiação e direito à herança são coisas que sempre andam
juntas nas Escrituras. Os homens estão tentando possuir a terra, governar os
mares, e conquistar o ar. Lutam para obter poder, riquezas, sabedoria, força,
honra, glória e bênção. Cristo, por ser Filho, irá herdar tudo isso, pois ele é
o Herdeiro designado de todas as coisas, e somente ele é digno de possuir todas
as coisas. A longa história do mundo apenas prova que o homem é totalmente
indigno de herdar essas coisas. Em qualquer medida em que elas sejam agarradas
pelo homem, ele acaba abusando delas para se exaltar a si mesmo e deixar Deus
de fora. O poder ele usa para fazer sua própria vontade; as riquezas ele busca
na tentativa de ser feliz sem Deus; a sabedoria para excluir a Deus da Criação
que pertence a ele; a força para agir independentemente de Deus; a honra para
se exaltar a si mesmo; a glória para se exibir; e a bênção para ministrar a si
mesmo. No entanto o homem rejeitou completamente Aquele que é o Herdeiro
designado de todas as coisas e o pregou numa cruz. Todavia os céus se deliciam
em dizer: "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e
riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças" (Ap
5:12). Quando Cristo tomar posse da herança de todas as coisas, ele irá usá-las
para a glória de Deus e bênção do homem. No cristianismo somos identificados
com o Herdeiro de todas as coisas. Que consolo este para aqueles que, assim
como estes crentes Hebreus, sofrem a perda de seus bens.
2. O Filho é Aquele por quem
todo o Universo foi criado: "Ele fez os mundos". Não apenas este
mundo, mas também todo os vastos sistemas que seguem seu caminho através das
imensuráveis profundezas do espaço. Olhamos para frente e vemos que ele é o
Herdeiro designado de todas as coisas: olhamos para trás e vemos que ele é o
Criador de todas as coisas, grandes e pequenas. A digital do Filho está em toda
a Criação.
3. O Filho é "o
resplendor da sua glória", a exibição do fulgor da glória de Deus. O filho
feito carne apresenta em sua totalidade a glória de Deus. Essa glória de Deus é
a combinação de todos os atributos de Deus em exibição. O Filho se aproximou de
nós numa forma que nos torna possível vermos Deus sendo apresentado em todos os
seus atributos.
4. O Filho é "a expressa
imagem da sua Pessoa". Isso vai além de apenas exibir os atributos;
trata-se da exibição do próprio Deus, da expressão do seu Ser. O Filho feito
Homem era a representação visível daquele que é invisível. É possível exibir os
atributos de uma pessoa sem ser a representação daquela pessoa. Todavia, no
Filho os atributos de Deus não apenas foram vistos, mas ele próprio era a
representação de Deus na Criação. Todas as suas ações mostravam que Deus estava
presente conosco.
5. O Filho é o Mantenedor de
todas as coisas pela Palavra do seu poder. Ainda que os homens admitam que
possa ter existido um fator gerador, eles preferem excluir Deus de toda
atividade presente na Criação. Sua concepção de uma Criação é, como alguém
definiu, "suficiente em si mesma, como um maquinário perfeito criado para
funcionar eternamente sem que existisse uma mão para produzi-lo". A
verdade é que o Universo não apenas foi trazido à existência pelo Filho, como
ele é também mantido pelo Filho. Nem uma estrela sequer pode manter seu curso,
nem um pardal cair por terra, sem que seja pelo Filho.
6. O Filho fez a purificação
dos pecados. Ele não apenas é o Criador do mundo, mas é também o Redentor de um
mundo caído. Ele, "por si mesmo", cumpriu a obra pela qual os pecados
do crente podem ser perdoados e removidos de diante de Deus.
7. A glória da Pessoa do Filho
é ainda mais visível pelo lugar exaltado que ele agora ocupa à destra da
majestade nas alturas. Ao longo da epístola aos Hebreus isso — que ele
assentou-se à destra de Deus — é declarado quatro vezes. Aqui é por causa da
glória da sua Pessoa; no capítulo 8 é em conexão com sua presente obra como
nosso Sumo Sacerdote; no capítulo 10 a sua posição à destra de Deus é o
resultado de sua obra consumada na cruz; no capítulo 12 é por ter alcançado o
final da senda da fé.
Havendo assegurado as glórias
do Filho em sua passagem pelo Tempo, e em sua posição atual à destra de Deus, o
Espírito de Deus segue apresentando as surpreendentes excelências do Nome que
Cristo herdou quando manifestado em carne. Nome, nas Escrituras, representa
renome ou fama que distingue uma pessoa de outras. Há sete passagens do Antigo
Testamento que são citadas para mostrar que Cristo possui um Nome mais
excelente do que o de qualquer outro ser criado.
1. Nos versículos 4 e 5 Cristo
possui um lugar e um Nome muito acima dos anjos. O Salmo 2 é citado para provar
isso, pois vindo ao mundo Cristo assume um lugar muito melhor do que o dos mais
exaltados seres criados. Os anjos, por mais abençoada que seja sua posição, não
passam de servos; Cristo, por sua vez, é o Filho. Nunca foi dito de nenhum ser
angelical: "Tu és meu Filho, eu hoje te gerei". A verdade é que
Cristo é apresentado nas Escrituras como sendo o Filho desde toda a eternidade;
aqui ele é proclamado Filho ao ter nascido no Tempo. Alguém, com razão,
declarou: "Ele sempre foi o Filho e sempre será o Filho. Ele era o Filho
aqui como Homem e não será menos que o Filho por toda a eternidade... Não
poderia haver diferença entre o Filho Eterno e o Filho nascido no Tempo, exceto
quanto à sua condição".
A fim de mostrar ainda mais
que a fama de Cristo excede a dos anjos, é citada uma segunda passagem de 2
Samuel 7:14, dizendo que Cristo não só permaneceu no relacionamento de Filho de
Deus ao longo de sua senda neste mundo, como sempre desfrutou dos privilégios
característicos desse parentesco, como está escrito: "Eu lhe serei por Pai
e ele me será por Filho.".
Mais uma passagem é citada
para indicar que o lugar que o Filho ocupa está muito acima daquele dos anjos,
pois ao vir ao mundo dele foi dito: "E todos os anjos de Deus o
adorem" (Sl 97:7). Ele não apenas era o objeto da adoração nos cenários
celestiais, como também, ao vir ao mundo, seja em sua humilhação passada ou em
sua glória milenial futura, ele é o objeto de adoração das hostes celestiais.
Essa homenagem revela a sua glória, pois se ele não fosse uma Pessoa divina,
tal adoração estaria totalmente fora de lugar.
2. O trono que ele ocupa, por
ter vindo ao mundo, está acima de todo trono. Deus faz de seus anjos espíritos;
do Filho nada é feito, pois ele é chamado de Deus, e contrastando com os tronos
dos reis terrenos, o seu trono é para todo o sempre. A citação vem do Salmo 45,
que sabemos referir-se ao "Rei". Desta epístola aprendemos que esse
Rei, que irá reinar sobre Israel, não é outro senão o Filho — uma Pessoa
divina. Os tronos dos homens chegam ao fim por não possuírem um fundamento de
justiça, mas o trono do Filho é para sempre, pois seu reinado é em justiça.
3. Em graça ele associou
outros consigo mesmo como sendo seus companheiros; mesmo assim, a citação do
Salmo 45 nos lembra de que ele possui um lugar acima do de seus companheiros.
Enquanto ele, como Pessoa divina que é, é chamado de Deus, ele é também visto
como o perfeito Homem sobre a terra, de quem pode ser dito: "O teu Deus te
ungiu". Por causa de sua perfeição moral — seu amor pela justiça e ódio
pela iniquidade, ele é exaltado acima de todos aqueles que, em graça, ele
próprio associou a si mesmo.
4. Toda a Criação abre
passagem diante de sua gloriosa Pessoa, daquele que é chamado de Criador. O
Salmo 102 é citado para provar que aquele que a si mesmo se humilhou, para se
tornar Homem de dores e lágrimas, não é outro senão o Senhor da Criação, por
meio de quem a terra e os céus foram feitos, e que, apesar de a Criação
envelhecer e perecer, ele permanecerá.
5. O Tempo apresenta suas
mudanças e chegará ao seu fim; todavia, da passagem do Salmo 102 aprendemos que
não há qualquer mudança nessa gloriosa Pessoa, e que seus anos nunca
terminarão.
6. Nenhum inimigo pode
permanecer diante dele. O Salmo 110 é citado para nos lembrar de que todo
inimigo será colocado debaixo de seus pés. Nos dias de sua carne os seus
inimigos o pregaram numa cruz; no dia de sua glória eles serão feitos estrado
para seus pés.
7. Cristo, embora assumindo
seu lugar como Homem, é maior do que todos os anjos, naquilo que o Salmo 110
aponta que ele é colocado sobre um trono para governar, enquanto os anjos são
enviados para servirem, como espíritos ministradores, aqueles que são herdeiros
da salvação.
Portanto, embora o Filho se
tenha feito carne, sua glória é cuidadosamente mantida. A excelência de seu
Nome é vista nesta galáxia de glórias. Sua fama excede a dos anjos; seu trono
está acima de todo trono. A Criação pode perecer, mas ele permanece. O Tempo
pode cessar, mas os seus anos não terminarão. Os seus inimigos são feitos
estrado de seus pés; e ele está assentado à destra de Deus para reinar enquanto
outros o servem. Ao entrar no mundo, todas as criaturas do Universo lhe cedem o
lugar. — Hamilton Smith