domingo, 30 de julho de 2017

Fé em Deus e em Cristo é Suficiente Para Salvar



--- Fé ou Sentimento? ---

"Se ao menos eu pudesse me sentir salvo", me disse um oficial, quando disse a ele que o Senhor Jesus tinha feito o suficiente para salvar sua alma.

"Mas", disse eu, "você não precisa se sentir salvo; apenas creia. Sua salvação não depende de seus sentimentos. Eu acreditei em Cristo por cerca de duas semanas antes de saber que eu estava salvo. Eu poderia ter sabido disto antes, mas eu estava esperando para me sentir salvo."

"Então, enfim, eu disse: 'Bem, se eu não me sentir salvo até que eu me encontre no Céu, ainda assim descansarei apenas na Palavra de Deus'. Deus disse em Sua Palavra: 'Aquele que crê no Filho tem a vida eterna' (João 3:36) Eu sei que eu creio em Cristo. E então o pensamento invadiu minha mente: 'Você sente que tem a vida eterna?' Eu não podia dizer que sentia. 'Então você não pode ter esse sentimento', foi o meu próximo pensamento."

-- Deus Diz --

"Então me lembrei, que Deus diz: 'Aquele que crê no Filho tem a vida eterna'. Eu sabia que eu realmente acreditava em Cristo, e portanto que eu tinha a vida eterna, sentindo isto ou não. Deus disse que eu tenho, e devo acreditar nEle e não em meus sentimentos. Acho que então aquele tormento me deixou, porque soube que estava seguro por causa da Palavra de Deus que nunca muda. Eu não pude sentir alegria e paz até muito tempo depois."

"Creio que você esteja certo", disse o jovem que estava escutando atentamente. "Sempre pensei que eu não fosse salvo ao menos que tivesse um bom sentimento acerca disto."

Por favor, assegure-se de que você não esteja sendo enganado, sendo tentado a confiar em sentimentos em vez de Cristo, ou esperando sentir, quando você deveria crer e ser salvo. "Sentimentos" são coisas mutáveis assim como o mercúrio dentro do termômetro - às vezes está alto, e às vezes está baixo.

O oficial foi mantido longe da salvação porque esperava por "sentimentos" em vez de simplesmente confiar no sangue de Jesus. "O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado." (1 João 1:7).

-- Perfeita Paz de Espírito --

Você crê em Jesus, mesmo não se sentindo salvo? Se você está realmente confiando em Jesus, você pode gozar de perfeita paz de espírito, uma vez que Deus o ressuscitou dentre os mortos, "para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus" (e não em seus sentimentos) e que, "tendo sido, pois, justificados pela fé" (e não por sentimentos), você "tenha paz com Deus" (1 Pedro 1:21; Romanos 5:1).

Uma vez que Jesus Cristo ofereceu-se a Si mesmo e foi aceito por Deus como um todo suficiente sacrifício pelos pecados, não seria justo da parte dEle justificar a você, um crente em Jesus? Ao ser justificado, você é considerado justo aos olhos dEle. E ele se alegra em fazer dessa maneira!


Satanás sugere que se você não se sente justificado quando crê, você não está. Mas Deus diz, "Por Ele é justificado todo aquele que crê." (Atos 13:39). Você é justificado, mesmo que não sinta isto, mas apenas porque Deus disse que você é. Ouça Sua voz, e tenha paz com Deus.

Texto do Blog GoodNews

Basta crer em Jesus para ser salvo?




sexta-feira, 28 de julho de 2017

Seria o cristão individualmente igreja?




Na tentativa de justificar a igreja como uma instituição, ou as denominações como instituições, alguns acabam tecendo um raciocínio ímpar, afirmando que o cristão seria individualmente igreja e a igreja seria coletivamente um "pregador".

Mas a igreja é o corpo de Cristo e o cristão, individualmente, é apenas um membro desse corpo, e o papel da igreja não é evangelizar, mas dedicar-se à comunhão dos santos, à doutrina dos apóstolos, ao partir do pão e às orações (Atos 2:42), ficando a evangelização como responsabilidade individual do cristão.

Não, igreja não é "todo o cristão que crê" porque igreja não é algo pessoal e individual. Um cristão não é igreja, a menos que você quisesse dizer que "igreja é formada por todos os cristãos que creem", o que então estaria correto. O cristão individualmente é membro do corpo de Cristo. A igreja é um corpo coletivo formado por muitos membros. O cristão individualmente é apenas membro do corpo, ele não é o conjunto. A igreja (o conjunto) não prega o evangelho e nem ensina. Os membros desse corpo, cada cristão individualmente, pregam e ensinam. Cristo deu dons (indivíduos) à igreja para a edificação do corpo de Cristo. Ele não deu o corpo de Cristo, a igreja, para edificação de si mesma.

Ef 4:11-12 "E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo".

A igreja nunca é uma pessoa, mas o corpo de Cristo representado por dois ou três (não um apenas) congregados ao seu nome e reconhecendo sua autoridade em seu meio. Repare que não são dois ou três que se reúnem, mas que são reunidos ou congregados, o que se deduz que exista um elemento reunidor, no caso o Espírito Santo. Dois ou três que se reúnem formam aqueles que acompanham o ofendido na tentativa da reconciliação do versículo abaixo, mas eles ainda assim não são igreja.

Mt 18:15-20 "Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra [como igreja, e não individualmente ou em conjunto com outros indivíduos] será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu... Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles."

Tudo é muito claro na palavra de Deus, e em um outro versículo Paulo explica o lugar de cada um, mostrando o que é igreja e o que é membro do corpo. Em 1 Coríntios 12:27 ele diz: "Ora, vós [plural] sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular." Percebe a distinção que o apóstolo faz? O conjunto é igreja, o particular é membro. Se você achar que o crente é individualmente "igreja", então ele será também individualmente a noiva de Cristo, o que irá gerar uma confusão ainda maior. Aí as bodas seriam com cada cristão individualmente, mas o que vemos em Apocalipse é que a igreja (o corpo formado por todos os salvos) que desce ataviada para o noivo.


Já vi muitos cristãos fazerem afirmações do tipo "eu sou igreja", "você é igreja", mas isso biblicamente não é correto e conduz também a outros erros. Se cada cristão individualmente fosse a igreja, então poderia ser dito que a igreja não só prega o evangelho como também ensina doutrina. Mas então teríamos uma contradição, pois a igreja é mulher (Noiva) e a mulher é proibida de ensinar em 1 Timóteo 2:12. O catolicismo romano é que acredita que "a igreja ensina", mas o Senhor condena de forma veemente isto em Apocalipse 2:20: "Tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos".



Seria o cristão individualmente igreja?



segunda-feira, 24 de julho de 2017

Posição e Condição do Crente




Apresentamos aqui algo acerca dos mais maravilhosos e proveitosos princípios que nos levam a um correto entendimento espiritual da posição e da condição do crente diante de Deus. A ignorância que existe acerca destes pontos é algo que entristece, já que a má compreensão da posição e condição do cristão diante Deus pode resultar em confusão e falsas doutrinas.
Certa vez perguntaram a um pregador se determinada forma de agir de um crente alteraria seu estado diante de Deus. - Sim - respondeu ele - afetará a sua condição, mas não a sua posição perante Deus. O que quer dizer isto? Conduziremos o leitor às passagens da Palavra de Deus que tratam deste assunto tão importante. Primeiramente citaremos três passagens que falam da nossa POSIÇÃO diante de Deus:
"Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis." (1 Co 15.1.)
"Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus." (Rm 5.1,2.)
"Por Silvano, vosso fiel irmão, como cuido, escrevi abreviadamente, exortando e testificando que esta é a verdadeira graça de Deus, na qual estais firmes." (1 Pd 5.12).
A posição do convertido é tal como Deus o vê em Cristo Jesus. Por conseguinte, o crente se encontra, diante de Deus, em toda a perfeição de Cristo Jesus. E como Deus vê a Seu Filho amado? Sem defeito, sem mancha, sempre perfeito. Como Deus nos vê? Em Cristo Jesus nos vê salvos, lavados com o Seu sangue e também sem defeitos, sem manchas e para sempre perfeitos.
Já que nossa "vida está escondida com Cristo em Deus" (Cl 3.3), temos muitas prerrogativas tais como a de não sermos chamados a juízo por nossos pecados e a certeza assegurada de que o Senhor nos guardará para o bendito dia da Sua vinda e ressurreição dos que são Seus. Esta confiança está clara nas palavras do apóstolo Paulo a Timóteo: "porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia" (2 Tm 1.12).
Vejamos, pois, qual é a condição do crente. Citaremos primeiro cinco passagens que se referem à nossa CONDIÇÃO espiritual:
"E espero no Senhor Jesus que em breve vos mandarei Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo, sabendo dos vossos negócios. Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso estado. Porque todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus." (Fl 2.19-21.)
"Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho." (Fp 4.11).
"Tíquico, irmão amado e fiel ministro, e conservo no Senhor, vos fará saber o meu estado." (Cl 4.7).
"Assim o meu coração se azedou, e sinto picadas nos meus rins. Assim me embruteci, e nada sabia; era como animal perante Ti. Todavia estou de contínuo contigo; tu me seguraste pela minha mão direita." (Sl 73.21-23)
"Porque receio que, quando chegar, vos ache como eu não quereria, e eu seja achado de vós como não quereríeis: que de alguma maneira haja pendências, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos; que, quando for outra vez, o meu Deus me humilhe para convosco, e chore por muitos daqueles que dantes pecaram, e não se arrependeram da imundícia, e prostituição, e desonestidade que cometeram." (2 Co 12.20,21.)
Qual é a condição do crente perante Deus? É tal como Ele nos vê em nossa vida diária. Como andamos? Falhamos a cada passo e sempre temos que ser disciplinados e corrigidos. Pecamos em palavras, em atos e em pensamentos, sendo tentados, atraídos e alimentados por nossa própria concupiscência (Tg 1.12-16). Além disso pecamos muitas vezes por não fazer o que devíamos, ou seja, por negligência (Tg 4.17).
A Palavra de Deus não estaria completa se nos ensinasse tão somente como ser salvos, sem nos mostrar também como deveríamos andar depois de convertidos a Cristo. Recomendamos, pois, ao crente que tiver dificuldade em compreender isto, que faça a si mesmo esta pergunta quando ler algo em sua Bíblia: "Este versículo fala de minha posição ou de minha condição perante Deus?".
Como existe uma grande diferença entre ambos os gêneros, convém esquadrinhar mais as Escrituras para chegar a melhores conclusões. Tomemos como exemplo 1 Coríntios 1.2, onde o apóstolo se dirigiu aos crentes chamando-os de "santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso" enquanto no capítulo 3.3, os qualificou de "carnais", pois, "havendo entre vós inveja, contendas e dissensões". Na primeira parte, ao chamá-los"santificados" (separados) por Ele e para Sua glória, se está considerando a posição perante Deus. Mas o seu modo de andar, ou seja a sua condição estava sujeita à crítica construtiva do apóstolo Paulo, pois os encontrou completamente"carnais" e andando "segundo os homens", pelo que necessitavam ser corrigidos e exortados.
Também em Colossenses 2.10 lemos: "E estais perfeitos nEle". Isto se refere à posição perfeita que cada crente tem em Cristo. Jamais poderíamos "melhorar" uma posição tão privilegiada pois o crente já é completo nEle. Mas, lamentavelmente o nosso modo de andar, ou condição, não está no mesmo nível de nossa posição, pois jamais poderemos dizer que estamos sem pecado (1 Jo 1.10).
No que se refere à posição atual dos crentes perante Deus, Ele sempre os contempla como se já estivessem na glória. Em Efésios 2.6 esta verdade tão preciosa nos é confirmada: "e nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus". Sublime benção! Mas Colossenses 3:5 nos exorta, quanto a nossa condição terrenal, admoestando-nos a mortificar os "nossos membros que estão sobre a terra". Assim vemos que os crentes ao mesmo tempo se situam no Céu (sua posição) e na terra (sua condição).
A epístola de Paulo aos Efésios é a porção mais extraordinária de toda a Bíblia naquilo que se refere à posição e condição do crente. A epístola se divide em seis capítulos. Os três primeiros tratam da nossa posição nos lugares celestiais em Cristo, e terminam com a palavras "Amém", ao final do capítulo 3. "Amém" significa "Assim seja". A segunda parte da epístola, começa com a palavra "andar": "Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação a que fostes chamados". (Ef 4.1.) E é a nossa condição que é tratada nos três capítulos finais da epístola.
É óbvio que existe na Palavra de Deus muito mais instruções referentes à condição do crente perante Deus do que à sua posição perante Ele. Assim deve ser, pois sua condição é terrenal e temporária enquanto que a sua posição é celestial, eterna e perfeita. Cristo, em Sua morte na cruz do Calvário, a fez assim. É o dom gratuito de nosso Deus para pobres pecadores como nós. Devemos ser "um povo zeloso de boas obras" (Tt 2:14), não para que sejamos salvos, mas porque já somos salvos.
É o desejo constante do Pai (o Espírito Santo atua também continuamente com igual propósito), que nossa condição esteja sempre em conformidade com nossa posição gloriosa e celestial. (Rm 6.12-14 e 2 Tm 2.21,22)

Autor desconhecido


Continuamos pecadores depois de salvos?






domingo, 23 de julho de 2017

Como Cristãos Devem Se Reunir Para Adoração e Ministério?




A Bíblia, especialmente o Novo Testamento, é o guia que ensina hoje como os crentes devem se reunir (Doutrina Apostólica).

O grande projeto de Deus é exaltar o Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, a Quem "deu um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão no céu, na terra, e debaixo da terra" (Fp 2: 9-10; Ef 1:20).

O Senhor Jesus disse aos discípulos que quando a igreja se formasse (em Pentecostes), após a Sua morte, Seu nome seria o ponto de reunião deles. Ele disse: "Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mateus 18:20).

A igreja primitiva agiu desta forma, eles se reuniam ao nome glorioso do Senhor Jesus quando se congregavam para a adoração, ministério e outras funções da assembleia (1 Coríntios 5:4). Eles não reconheciam outro nome além do nome de Jesus Cristo e isso ainda é o modelo de Deus para a igreja hoje!

Claro, o Senhor Jesus é digno que não aceitemos qualquer outro nome além do Seu.

Não é bíblico que o povo redimido de Deus leve todo o tipo de nomes denominacionais e não denominacionais.

Os cristãos na Terra seguem querendo congregar-se sob todo o tipo de nomes sectários, apesar de admitirem que no céu não haverá tal coisa.

O Apóstolo Paulo repreende a exaltação de outro nome, mesmo que fosse o dele próprio. (1 Co 1:12; 3:3-5).

Os cristãos devem se reunir de uma forma simples (Hb. 13:13), assim terão a feliz confiança de que estarão congregados da maneira como as Escrituras estabelecem. Há uma alegria em se fazer a vontade de Deus que é conhecida apenas por aqueles que a fazem.

É esta a maneira que Deus quer que o Seu povo seja estabelecido na verdade. "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (João 8:32); "Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” (1 Timóteo 2:3,4).


B. Anstey

Recomendo fortemente a leitura dos seguintes livros para quem deseja reunir-se apenas ao Nome do Senhor Jesus Cristo sem intermediários humanos, como somos exortados e ensinados pelos apóstolos. Veja 1 Coríntios 3.




Pode me indicar uma igreja para eu congregar?





sexta-feira, 21 de julho de 2017

O Que É Santificação? - C. H. Mackintosh



Tendo o propósito de ministrar paz e conforto àqueles que, embora verdadeiramente convertidos, ainda não se apossaram da plenitude de Cristo, e que, como consequência, não estão desfrutando da liberdade do evangelho, consideramos de grande interesse e importância escrever sobre o assunto da Santificação. Cremos que muitos, daqueles cujo bem-estar espiritual desejamos promover, sofrem por terem uma ideia errada acerca deste assunto. Na verdade, em alguns casos, a doutrina da santificação é tão mal compreendida que chega a interferir com a fé na perfeita justificação e aceitação do crente perante Deus.

Temos ouvido, com certa frequência, pessoas se referirem à santificação como se fosse um trabalho progressivo, por meio do qual nossa velha natureza seria gradativamente melhorada. Além disso, afirmam que enquanto esse processo não atingir o seu clímax, ou seja, enquanto a natureza humana, caída e arruinada, não for completamente santificada, não estaremos preparados para o céu.

Tanto as Escrituras como a experiência prática de todos os crentes são totalmente contrárias a tal pensamento. A Palavra de Deus não nos ensina que o Espírito Santo tenha como objetivo o aperfeiçoamento, mesmo que gradual ou de que forma for, de nossa velha natureza -- aquela mesma natureza que herdamos, por nascimento natural, do caído Adão. O apóstolo inspirado declara expressamente que "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co. 2:14). Esta passagem é clara e conclusiva quanto a este ponto. Se o "homem natural" não pode "compreender", nem "entender", "as coisas do Espírito de Deus", como poderia este mesmo "homem natural" ser santificado pelo Espírito Santo? Não está evidente que falar em santificação de nossa natureza está em oposição direta ao ensinamento de 1 Coríntios 2:14? Outras passagens poderiam ser acrescentadas para provar que o desígnio das operações do Espírito não é o de aperfeiçoar ou santificar a carne, porém não há necessidade de multiplicar as citações bíblicas. Algo que está completamente arruinado não pode nunca ser santificado.

Não importa o que se faça com a velha natureza ela continua arruinada, e, com toda a certeza, o Espírito Santo não desceu para santificar a ruína, mas para conduzir o arruinado a Jesus. Ao invés de encontrarmos qualquer tentativa de santificação da carne, lemos que "a carne cobiça (ou milita) contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro" (Gl. 5:17). Poderia o Espírito Santo ser apresentado como efetuando um combate contra aquilo que Ele estaria gradualmente aperfeiçoando ou santificando? Acaso não cessaria o conflito tão logo o processo de aperfeiçoamento tivesse atingido o seu ponto máximo? No entanto, será que o conflito do crente alguma vez cessa enquanto ele estiver no corpo?

Isto nos leva à segunda objeção à teoria errônea da santificação progressiva da nossa natureza, a saber, A objeção criada pela sincera experiência prática de todos os crentes. Você, que lê estas linhas, é um verdadeiro crente? Se for, acaso já notou algum aperfeiçoamento em sua velha natureza? Há nela algum aspecto que seja melhor agora do que quando começou em sua vida cristã? Talvez agora você possa, e é certo que pela graça deverá poder subjugá-la com maior rigor, mas será que ela melhora com isso? Se ela não for mortificada, estará sempre pronta para surgir novamente e se mostrar com a mesma vileza de sempre. A carne em um crente não é em nada melhor do que a carne em um incrédulo. E se o cristão não tiver firme em sua mente que o EU deve ser julgado, ele logo irá aprender, por amarga experiência, que sua velha natureza é tão má agora como sempre o foi; e continuará assim até o fim.

É difícil conceber que alguém, que é levado a esperar uma melhora gradativa de sua natureza, possa desfrutar de um momento de paz, uma vez que tal pessoa não poderá deixar de ver, caso examine a si mesma à luz da Palavra de Deus, que seu velho EU -- sua carne -- é o mesmo de quando ele caminhava na escuridão moral de seu estado de inconverso. O seu caráter e a sua condição estão, de fato, bastante mudados pela posse de uma nova natureza, sim, de uma "natureza divina" (2 Pd. 1:4), e pela incorporação do Espírito Santo para dar cumprimento à Sua vontade. Mas, no momento em que é permitido que a velha natureza volte a agir, o crente a encontrará, como sempre, em completa oposição a Deus.

Não temos qualquer dúvida de que, na sua grande maioria, a melancolia e o abatimento de que muitos crentes se queixam podem ser uma consequência da má compreensão deste importante assunto que é a santificação. Muitos estão procurando o que nunca podem encontrar; estão buscando a paz com base em uma natureza santificada ao invés de a procurarem no sacrifício perfeito; buscam-na num contínuo trabalho de santidade quando deveriam buscá-la numa completa obra de expiação. Tais pessoas consideram uma presunção crer que seus pecados estão perdoados enquanto sua natureza má não estiver completamente santificada e, ao perceberem que nunca alcançam isto, acabam por não desfrutar de uma completa certeza de perdão, vivendo, consequentemente, uma vida triste. Em poucas palavras, estão buscando um fundamento totalmente diferente daquele que Jeová afirma haver colocado, e vivem, por conseguinte, uma vida de incertezas. A única coisa que parece dar-lhes uma centelha de conforto é algum esforço aparentemente bem-sucedido em sua luta por santidade pessoal. Se tiverem um bom dia, se forem favorecidos com um período de agradável comunhão, se puderem usufruir de um sentimento pacífico e devoto, estarão prontos a proclamar: "Tu, Senhor, pelo Teu favor fizeste forte a minha montanha" (Sl. 30:7).

Mas, oh! Quão deplorável é o fundamento para a paz de espírito que tais coisas oferecem! Tais coisas não são Cristo, e enquanto não estivermos cientes de que nossa posição diante de Deus é em Cristo, a paz não poderá se estabelecer. A alma que verdadeiramente se apossou de Cristo é deveras desejosa de santidade, porém está ciente do que Cristo é para si. Tal pessoa encontrou seu tudo em Cristo, e o desejo supremo do seu coração é crescer à Sua semelhança. Esta é a verdadeira santificação prática.

Frequentemente ocorre que pessoas, ao falarem de santificação, tenham em mente a coisa certa, apesar de não conseguirem se expressar de acordo com os ensinamentos das Sagradas Escrituras. Há também muitos que veem apenas um lado da verdade acerca da santificação, sem enxergarem o outro, e, embora possamos estar parecendo alguém que faz dos outros transgressores da Palavra, é sempre mais desejável, ao falarmos de qualquer assunto relativo à Palavra e ainda mais deste assunto de tanta importância como é a santificação, que falemos de acordo com a divina integridade da Palavra de Deus. Devemos, portanto, apresentar aos nossos leitores algumas das principais passagens do Novo Testamento nas quais esta doutrina é exposta. Estas passagens irão nos ensinar duas coisas: o que é santificação e como é efetuada.

A primeira passagem à qual chamaremos a atenção é 1 Coríntios 1:30: "Mas vós sois dEle, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". Aqui aprendemos que Cristo "foi feito" todas estas coisas. Deus nos tem dado, em Cristo, um precioso porta-joias, e quando o abrimos com a chave da fé, a primeira joia que resplandece aos nossos olhos, na sabedoria de Deus, é: "justiça"; então, "santificação" e, finalmente, "redenção". Temos isso tudo em Cristo. Quando recebemos um, recebemos todos. E como recebemos um e todos? Pela fé. Então, por que o apóstolo cita redenção por último? Porque ela se cumpre no livramento final do crente de seu corpo, de sob o poder da mortalidade, quando a voz do arcanjo e a trombeta de Deus deverá levantá-lo do túmulo, ou transformá-lo, "num abrir e fechar de olhos". O corpo está agora numa condição e, "num momento", estará em outra. No curto espaço de tempo expressado pelo rápido movimento das pálpebras, o corpo passará da corrupção para a incorrupção; da desonra para a glória; da fraqueza para o poder. Que mudança! Será imediata, completa, eterna!

Mas o que devemos aprender do fato de a "santificação" estar colocada naquele grupo juntamente com "redenção"? Aprendemos que aquilo que a redenção será para o corpo, a santificação é agora para a alma. Em poucas palavras, santificação, no sentido em que é aqui usada, é imediata e completa -- um trabalho divino. No que diz respeito à santificação e à redenção, uma não é mais progressiva do que a outra. Uma é tão completa e independente do homem quanto a outra. Sem dúvida, quando o corpo tiver passado pela gloriosa mudança, haverá picos de glória a serem atingidos, profundezas de glória a serem penetradas e extensos campos de glória a serem explorados. Todas estas coisas irão nos ocupar através da eternidade. Mas, então, a obra para nos preparar para tais cenas será feito em um momento. O mesmo sucede com relação à santificação: seus resultados práticos estão constantemente se apresentando, mas ela, em si mesma, trata-se de algo realizado em um só momento.

Que imenso alívio seria para milhares de almas zelosas, ansiosas e batalhadoras, se compreendessem isto e tivessem uma apropriada possessão de Cristo como santificação! Quantos estão se empenhando em realizar uma santificação por si mesmos! Após muitos esforços infrutíferos buscando conseguir justiça em si mesmos, foram a Cristo para obtê-la; e, no entanto, não querem fazer o mesmo quando se trata de buscar por santificação. Receberam "justiça sem obras" e esperam conseguir santificação com obras. Receberam justiça pela fé, mas acham que a santificação deve ser conseguida por esforço próprio. Não percebem que recebemos santificação exatamente da mesma maneira que recebemos justiça, visto que Cristo "para nós foi feito por Deus" tanto uma coisa como outra. Recebemos a Cristo pelo esforço? Não, mas pela fé! Pois "aquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça" (Rm. 4:5). Isto se aplica a tudo o que recebemos em Cristo. Nós não estamos autorizados a separar de 1 Coríntios 1:30 o assunto da santificação, colocando-o em um plano diferente das outras bênçãos que o versículo engloba. Também não temos sabedoria, justiça, santificação e, tampouco, redenção em nós mesmos; e nem podemos adquiri-las por algo que possamos fazer; mas Deus fez com que Cristo fosse todas estas coisas em nós. Nos dando Cristo, Ele nos deu tudo o que está em Cristo. A plenitude de Cristo é nossa, e Cristo é a plenitude de Deus.

Em Atos 26:18, é falado, com respeito aos gentios convertidos, como recebendo "a remissão dos pecados, e sorte entre os santificados pela fé". Aqui a fé é o instrumento pelo qual nos é dito para sermos santificados, pois nos liga com Cristo. No exato momento em que o pecador crê no Senhor Jesus Cristo, é ligado a Ele. É feito UM com Ele, completo nEle, aceito nEle. Isto é verdadeira santificação e justificação. Não se trata de um processo. Não é um trabalho gradual. Não é progressiva. A palavra está bem explícita. É dito: "...os santificados pela fé em mim". Não diz "...os que deverão ser santificados", ou "...os que estão sendo santificados". Se esta fosse a doutrina, assim ela seria exposta.

Não há dúvida de que o crente cresce no conhecimento de sua santificação, na consciência do poder e do valor que ela tem, na sua influência e seus resultados práticos, e na experiência e gozo dela. Tão logo a verdade derrame sua luz divina sobre a alma, o crente entra numa compreensão mais profunda daquilo que envolve o fato de se estar separado para Cristo, em meio a este mundo satânico. Isso tudo é abençoadamente verdadeiro, mas quanto mais a verdade é visualizada, mais claramente iremos entender que santificação não é meramente um trabalho progressivo operado em nós pelo Espírito Santo, mas é o resultado de nossa ligação a Cristo pela fé, por meio da qual nos tornamos participantes de tudo o que Ele é. Este é um trabalho imediato, completo e eterno. "...tudo quanto Deus faz durará eternamente: nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar." (Ec. 3:14). Se Ele justifica ou santifica, "durará eternamente". O selo da eternidade é fixado sobre todo o trabalho da mão de Deus; "nada se lhe deve acrescentar" e, louvado seja o Seu nome, "nada se lhe deve tirar".

Há passagens que apresentam o assunto em outro aspecto, -- o resultado prático no crente de sua santificação em Cristo, o que pode exigir uma consideração mais apurada daqui para frente. Em 1 Tessalonicenses 5:23, o apóstolo roga aos santos aos quais se dirige: "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo". A palavra santifique, aqui, está no sentido de se distinguir determinadas classes de santificação. Os Tessalonicenses tiveram, assim como todos os crentes, uma perfeita santificação em Cristo, porém, no que se refere à apreciação e manifestação prática dessa santificação, isto foi apenas consumado em parte, razão pela qual o apóstolo roga para que eles fossem totalmente santificados.

É digno de nota que nesta passagem nada é dito a respeito da carne. Nossa natureza caída e corrompida é sempre tratada como algo irremediavelmente arruinado. Ela foi pesada na balança e achada em falta. Foi medida por um padrão divino e se mostrou insuficiente. Foi conferida por um fio de prumo divino e provou estar desaprumada. Deus a rejeitou. A velha natureza encontrou o seu fim perante Deus e foi por Ele condenada e entregue à morte (Rm. 8:3). Nosso velho homem está crucificado, morto e sepultado (Rm. 6:8). Estaremos nós, mesmo que por um momento, a imaginar que Deus -- o Espírito Santo -- desceria dos céus com o propósito de desenterrar algo condenado, crucificado e enterrado, a fim de podê-la santificar? Basta apenas que se identifique o que implica tal ideia para que a mesma seja abandonada para sempre por todo aquele que se sujeita à autoridade das Escrituras. Quanto mais acuradamente estudarmos a Lei, os Profetas, os Salmos e todo o Novo Testamento, iremos ver que a carne é totalmente irrecuperável. Ela não é boa para coisa alguma e o Espírito não a santifica, pelo contrário, capacita o crente a mortificá-la. Nos é dito que lancemos fora o velho homem. Tal preceito nunca nos teria sido dado se o objetivo do Espírito Santo fosse a santificação daquele velho homem.

Cremos que ninguém irá nos acusar de estarmos alimentando o desejo de rebaixar o padrão de santidade pessoal, ou enfraquecer sinceras aspirações de uma alma que tenha crescido naquela pureza que todo verdadeiro cristão deve desejar ardentemente. Longe de nós tal pensamento! Se existe algo que desejamos promover em nós mesmos e, acima de tudo, nos outros, é uma completa pureza pessoal; uma santidade divinamente prática; uma sincera separação para Deus, de todo o mal e em todas as formas e maneiras. Por isto nós ambicionamos, por isto oramos e nisto desejamos crescer diariamente.

Porém, estamos plenamente convencidos de que um edifício de santidade verdadeira e prática nunca pode ser erigido sobre um alicerce legalista, e, por conseguinte, chamamos a atenção dos leitores para 1 Coríntios 1:30. É triste vermos que muitos daqueles que, de uma forma ou de outra, deixaram qualquer base legalista no que se refere à justiça, hesitem em fazer o mesmo para abraçar a santificação. Cremos ser este o engano de milhares de pessoas, e estamos ansiosos em vê-lo corrigido. A passagem citada poderia corrigir inteiramente este sério erro, se tão somente fosse recebida no coração pela fé.

Todos os cristãos com algum discernimento concordam quanto à verdade fundamental da justificação sem obras. Todos admitem plenamente que não podemos, por nosso próprio esforço, produzir uma auto-justificação diante de Deus. Mas será que não está igualmente claro que a justificação e a santificação encontram-se exatamente sobre o mesmo plano na Palavra de Deus? Não podemos produzir uma santificação do mesmo modo como não podemos produzir uma justificação. Podemos tentar fazê-lo, mas cedo ou tarde descobriremos que terá sido totalmente em vão. Podemos prometer e decidir; podemos trabalhar e lutar; podemos nutrir a vã esperança de que amanhã agiremos melhor do que hoje; mas no fim acabaremos constrangidos a reconhecer, sentir e confessar que somos tão incapazes naquilo que se refere à santificação como o somos no que diz respeito à justificação.

Ah! que doce alívio para o que sofre e tem buscado por satisfação e descanso em sua própria santidade, quando descobre, após anos de luta vã, que exatamente aquilo que ele tanto ambiciona está entesourado para ele em Cristo! Ao descobrir isto, sua alma torna-se serena em uma completa santificação a ser desfrutada pela fé! Ao viver batalhando contra seus hábitos, suas concupiscências, seu mau gênio e suas paixões, esse crente tem feito o mais penoso dos esforços para subjugar sua carne e crescer em santidade interior, mas ai! ele tem falhado (compare com Romanos 7). Ele descobre, para seu profundo desgosto, que ele não é santo, e lê que "sem a qual (santificação) ninguém verá o Senhor" (Hb. 12:14). Aqui não nos fala de um certo grau ou estágio de santificação, mas sem a coisa em si, a qual todo cristão possui desde o momento em que crê, quer ele saiba disto ou não. A perfeita santificação está tão incluída na palavra salvação quanto a justificação ou a redenção. Não se recebe a Cristo por esforço, mas pela fé, e quando se recebe a Cristo, recebe-se tudo o que está em Cristo. Consequentemente, é permanecendo em Cristo que se encontra poder para subjugar as concupiscências, paixões, mau gênio, maus hábitos, circunstâncias e influências nocivas. O crente deve contar com Jesus em tudo.

Tudo isso é simples para a fé. O lugar do crente é em Cristo, e se o crente está em Cristo para uma coisa, deve estar em Cristo para todas as coisas. Não pode estar em Cristo para a justificação e fora de Cristo para santificação. Se eu devo a Cristo a justificação, devo igualmente a Ele a santificação.. Não devo ao legalismo nem uma coisa nem outra. Recebo ambas pela graça, por meio da fé, e tudo em Cristo. Sim, TUDO em Cristo. No momento em que o pecador vem a Cristo e crê nEle, é tirado completamente do velho plano da natureza; ele perde sua velha situação legal e tudo o que diz respeito à mesma, e é visto como estando em Cristo. Ele não está mais na carne, mas no Espírito (Rm. 8:9). Deus o vê apenas em Cristo e em conformidade com Cristo. Ele se torna um com Cristo para sempre. "Porque, qual Ele é, somos nós também neste mundo" (1 Jo. 4:17). Tal é a posição absoluta, a posição estabelecida e eterna do mais fraco bebê na família de Deus. Não há mais do que uma posição para todo filho de Deus, todo membro de Cristo. Seu conhecimento, experiência, poder, dom e inteligência, podem variar, mas sua posição é uma só. Seja quanto à sua justificação ou santificação, o crente possui tudo, e deve tudo, à sua permanência em Cristo. Se alguém não obteve uma completa santificação, tampouco terá obtido uma completa justificação. Mas 1 Coríntios 1:30 ensina claramente que Cristo "para nós foi feito por Deus" tanto uma quanto a outra em todos os crentes. Não nos é dito que tenhamos justificação e um pouco de santificação. Se não temos autoridade para colocar a palavra um pouco antes de justificação, também não temos autoridade para fazer isto com a santificação. O Espírito de Deus não coloca a palavra um pouco antes de nenhuma delas. Ambas são perfeitas, e as temos, ambas, em Cristo. Deus nunca faz algo pela metade. Não há algo como meia-justificação. Tampouco há algo como meia-santificação. A ideia de que um membro da família de Deus ou do corpo de Cristo seja totalmente justificado, mas apenas meio santificado é, por princípio, contra as Escrituras, e revoltante à toda a sensibilidade da natureza divina.

Não é improvável que muito da má compreensão que prevalece, com respeito à santificação, seja devido ao costume que se tem de confundir duas coisas que diferem muito na prática, a saber, nossa posição e nossa condição. A posição do crente é perfeita, pois ela é um dom de Deus em Cristo. Porém, a condição ou maneira de agir do crente, esta sim pode ser bem imperfeita, oscilante e marcada por insegurança pessoal. Enquanto sua posição é absoluta e inalterável, sua condição prática pode exibir muitas imperfeições, uma vez que ele permanece no corpo e cercado por várias influências hostis que dia a dia afetam a sua condição moral. Se, então, sua posição for avaliada por sua maneira de agir, por sua situação ou condição; ou o que ele é sob o ponto de vista de Deus for avaliado do ponto de vista dos homens, então o resultado apresentado será falso. Se eu tentar chamar à razão tudo aquilo que sou em mim mesmo, ao invés do que eu sou em Cristo, devo, necessariamente, chegar à uma conclusão errada.

Nós devemos olhar para tudo isso com muito cuidado. Estamos sempre muito dispostos a raciocinar de baixo para cima, de nós para Deus, ao invés de o fazermos de cima para baixo, de Deus para nós. Devemos ter em mente que:

Longe como as órbitas celestes que brilham,
Além de onde as nódoas da terra ascendem,
Além de meus pensamentos, além do chão que meus pés trilham,
Vossos caminhos e pensamentos transcendem.

Deus olha para Seu povo, e age para com ele de acordo com sua posição em Cristo. Deus deu-lhes essa posição. É Ele Quem faz com que sejam o que são; são o fruto do Seu trabalho. Portanto, tratá-los como estando meio-justificados é uma desonra para Deus, tanto quanto considerá-los como meio-santificados.

Esta linha de pensamento nos conduz a outra forte prova tirada da autorizada e conclusiva página de inspiração divina, a saber, 1 Coríntios 6:20. Nos versículos precedentes, o apóstolo pinta um quadro horrível da natureza humana caída, e adverte sinceramente aos santos de Corinto que eles haviam sido exatamente aquilo. "E é o que alguns têm sido" (1 Co. 6:11). Esta é uma declaração cabal. Não há palavras lisonjeiras; não há rodeios e nem se tenta esconder a verdade completa quanto à ruína irreversível da natureza humana. "E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus" (1 Co. 6:11).

Que flagrante contraste antes e depois do "mas" dito pelo apóstolo. De um lado temos toda a degradação moral da condição humana, e, do outro, encontramos a absoluta perfeição da posição do crente diante de Deus. Isto é, verdadeiramente, um maravilhoso contraste, e deve ser lembrado que a alma passa, em um instante, de um lado para o outro deste "mas". "E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados..." (1 Co. 6:11), o que os torna bem diferentes. No momento em que receberam o evangelho de Paulo, eles foram "lavados, santificados e justificados". Ficaram prontos para o céu e, se assim não fosse, haveria uma mancha na obra divina.

De toda mancha nos limpar,
Foi Teu desejo, Senhor;
Me atreveria a duvidar
Do alcance do Teu favor?

A Tua Palavra é fiel
Tua obra completa e cabal;
Estou seguro! Vou rumo ao céu!
Iria eu, duvidar, afinal?

Isso tudo é divinamente verdadeiro! O mais inexperiente crente está limpo de toda mancha, não por mérito, mas como consequência de estar em Cristo. Ele deverá, evidentemente, cultivar o conhecimento e a experiência do que é realmente santificação. Ele irá, assim, entrar no poder prático da santificação; no seu efeito moral sobre os seus hábitos, pensamentos, sentimentos e afeições. Em suma, ele irá entender e exibir a poderosa influência da santificação divina sobre o seu caráter e sua conduta. Porém, quando assim for, ele estará tão santificado aos olhos de Deus, quanto no momento em que foi unido a Cristo pela fé; sua santificação estará tão completa quanto quando se encontrar exposto à luz da divina presença, refletindo os raios de glória emanados do trono de Deus e do Cordeiro. Ele se encontra em Cristo agora; ele se encontrará em Cristo então. Sua condição, ou seja, as circunstâncias e a esfera em que se encontra, será diferente. Seus pés estarão, então, sobre o piso de ouro do santuário nas alturas, ao invés de estarem em contato com a árida superfície do deserto. Ele se encontrará em um corpo de glória, ao invés de estar em um corpo de humilhação. Porém, no que diz respeito à sua posição, sua aceitação, sua plenitude, sua justificação e sua santificação, tudo já terá sido estabelecido no momento em que creu no unigênito Filho de Deus -- tão estabelecido quanto sempre estará, pois foi tão estabelecido quanto Deus é capaz de fazê-lo. Tudo isso parece fluir como a conclusão necessária e inquestionável de 1 Coríntios 6:11.

É da maior importância compreender, com clareza, a diferença entre uma verdade e sua aplicação prática ou o resultado que essa verdade produz. Esta distinção é sempre mantida na Palavra de Deus. Você já está santificado! Esta é a verdade absoluta, tanto no que diz respeito ao crente, quanto no que é visualizada em Cristo. A aplicação prática disso, e seus resultados no crente, poderemos encontrar em passagens como esta: "Cristo amou a Igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra" (Ef. 5:25,26). "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo" (1 Ts. 5:23).

Mas como esta aplicação é feita e este resultado alcançado? Pelo Espírito Santo, por meio da Palavra escrita. Por isso lemos em João 17:17: "Santifica-os na verdade". E também, em 2 Tessalonicenses 2:13, "por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade", e 1 Pedro 1:2, "eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito".

O Espírito Santo efetua a santificação prática do crente com base na obra completa de Cristo, e Sua maneira de agir é pela aplicação, no coração e na consciência do crente, da verdade como ela é em Jesus. O Espírito Santo apresenta a verdade acerca da nossa posição perfeita perante Deus em Cristo, e, alimentando o novo homem em nós, nos capacita a lançar fora tudo o que não está de acordo com aquela posição. Um homem que é lavado, santificado e justificado, não estará satisfeito com qualquer atitude de mau gênio, concupiscência ou paixão impura. Ele é separado para Deus e deveria limpar-se de toda imundícia da carne e do espírito. É seu privilégio sagrado e feliz aspirar pelas mais sublimes alturas da santidade pessoal, e seu coração e seus hábitos devem ser dominados e estar sob o poder daquela grande verdade de que ele está perfeitamente lavado, santificado e justificado.

Esta é a verdadeira santificação prática; não se trata de uma tentativa de aperfeiçoar nossa velha natureza ou de se empenhar inutilmente em tentar reconstruir uma ruína irrecuperável. Não; trata-se simplesmente do Espírito Santo, pela poderosa aplicação da verdade, capacitando o novo homem a viver, agir e existir naquela esfera à qual ele agora pertence. Aí sim, sem sombra de dúvida, haverá verdadeiro progresso. Haverá crescimento no poder moral desta preciosa verdade -- crescimento em habilidade espiritual para subjugar a natureza e mantê-la sob todos aqueles atributos -- um crescente poder de separação do mal ao nosso redor -- um crescente desvendar do céu ao qual pertencemos e para o qual estamos caminhando -- uma crescente capacidade para a apreciação de seus exercícios sagrados. Tudo isso será por meio do gracioso ministério do Espírito Santo, que usa a Palavra de Deus para desvendar às nossas almas a verdade sobre o caminhar que convém a uma tal posição. Mas deve ficar bem claramente compreendido que a obra do Espírito Santo na santificação prática, dia a dia, está fundamentada no fato de que os crentes estão "santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez" (Hb. 10:10). O objetivo do Espírito Santo é nos indicar o conhecimento, a experiência e a exibição prática daquilo que tornou-se verdadeiramente nosso no momento em que cremos. Neste aspecto não existe progresso pois nossa posição em Cristo é eternamente completa.

"Santifica-os na verdade: a tua palavra é a verdade" (Jo. 17:17). E também, "O mesmo Deus de paz vos santifique em tudo" (1 Ts. 5:23). Nestas passagens encontramos o importante aspecto prático da questão. Aqui vemos a santificação apresentada, não apenas como algo absoluta e eternamente verdadeiro para nós em Cristo, mas também como algo que é trabalhado em nós, a cada dia e hora, pelo Espírito Santo por meio da Palavra. Quando encarada deste ponto de vista, a santificação é, evidentemente, algo progressivo. Eu deveria estar mais avançado em santidade no próximo ano do que estive neste. E deveria, pela graça, estar avançando dia a dia em santidade prática. Mas será que isto nada mais é do que a expressão prática, na minha própria pessoa, daquilo que já era completamente meu em Cristo, no exato momento em que cri? O fundamento sobre o qual o Espírito Santo executa a obra subjetiva no crente, nada mais é do que a verdade objetiva de sua eterna perfeição em Cristo.

Assim, "segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb. 12:14). A santificação é apresentada aqui como algo a ser seguido -- a ser alcançado por uma busca zelosa -- algo que todo verdadeiro crente irá sempre cultivar.

Que o Senhor possa nos dirigir dentro do poder dessas coisas. Que elas não venham habitar como dogmas ou doutrinas na região de nosso intelecto, mas entrem e permaneçam no coração como realidades sagradas e poderosamente influentes! Que possamos conhecer o poder santificador da verdade (Jo. 17:17); o poder santificador da fé (At. 26:18); o poder santificador do nome de Jesus (1 Co.1:30; 6:2); a santificação do Espírito Santo (1 Pd. 1:2); a graça santificadora do Pai (Jd. 1).


C. H. Mackintosh

Quando um cristão se torna santo?







quinta-feira, 20 de julho de 2017

O Imperativo da Sã Doutrina



Em sua última epístola o apóstolo Paulo aconselhou Timóteo acerca de um dia em que os cristãos não suportariam a sã doutrina ou ensino (2 Tm 4:3-4). Motivos carnais fariam com que "desviassem os ouvidos da verdade", e o resultado seria que vagariam em direção aos mitos ou fábulas. Com a diversidade de ensino nas várias denominações na cristandade hoje, e com muitas dessas doutrinas em contradição umas com as outras, alguém com uma disposição correta irá chegar à conclusão de que há muitas fábulas misturadas com a verdade. Infelizmente, parece que a tolerância às doutrinas falsas ou contraditórias está se tornando cada vez mais comum nas igrejas cristãs, e a ênfase em um ensino sadio está se tornando menos comum.

A sã doutrina, também caracterizada como "boa doutrina" em 1 Timóteo 4: 6, é aquela que honra a Deus — Pai, Filho e Espírito Santo. Não há lugar para o orgulho ou luxúria do homem na"doutrina de Deus" (Tt 2:10) e qualquer "vento de doutrina", pelo qual os cristãos sejam "levados em roda" (Ef 4:14), irá glorificar o homem de uma maneira ou de outra. A sã doutrina glorifica a Deus em Cristo, ponto final.

Há igrejas e líderes cristãos que podem ser bem-intencionados em sua ênfase na vida cristã e na fraternidade prática, à custa de uma insistência na integridade doutrinal e na verdade, e eles têm sua recompensa. O Senhor pode usar qualquer esforço de fé verdadeira, qualquer desejo de glorificá-Lo, não importa o compromisso ou mistura que Ele encontre em um grupo de cristãos. Felizmente estamos seguros de que "o Senhor conhece os que são Seus", mas por outro lado, a responsabilidade de todos os que confessam o Seu nome é a de "afastar-se da iniquidade" (2 Tm 2: 16-21). Está claro no contexto dessa advertência que a falsa doutrina é uma manifestação de iniquidade.

Agora alguém poderia perguntar: "Existe uma lista de ensinamentos bíblicos que são tão importantes que devem ser defendidos até mesmo ao ponto de nos separarmos de outros que os contradizem?" Outro poderia perguntar: "Existe um perigo de sectarismo quando insistimos em pureza doutrinária à custa da comunhão com outros cristãos sinceros?" Ao invés de responder a essas perguntas diretamente, sugiro que olhemos para vários princípios que são fundamentais na preservação da sã doutrina para a glória de Deus.

1. A integridade doutrinal é eminentemente importante para o cristianismo. 

É algo ainda mais crítico do que qualquer volume de bons ensinamentos sobre a vida cristã prática. O ensinamento sério quanto à Pessoa gloriosa e à obra consumada do Senhor Jesus Cristo deve ser mantido na casa de Deus, a igreja, que é coluna e firmeza da verdade (1 Tm 3:15). Qualquer comprometimento neste sentido traz desonra a Deus, e é somente por este motivo que um coração que busca Sua glória deve se separar e evitar os falsos ensinamentos que comprometam a Pessoa e obra de Cristo.

Por exemplo, não se deve tolerar o ensino que especula que Jesus poderia ter pecado, inferindo esse erro do fato de Ele ter sido tentado enquanto estava na terra. Ele passou por aqueles testes para provar que Ele era "ouro puro" quanto à Sua natureza sem pecado, e não porque existisse qualquer dúvida a esse respeito. Aquelas tentações provaram que Ele era "sem pecado" (Hb 4:15). Além disso, Ele "não conheceu pecado" (2 Co 5:21), pois "nele não há pecado" (1 Jo 3:5). Se a assembleia não guardar zelosamente a glória de Cristo neste e em outros pontos similares de controvérsias doutrinárias, acabará trocando o verdadeiro Cristo por "outro Jesus" (2 Co 11:4), e mais corrupção certamente se seguirá.

2. As censuras e argumentos dos apóstolos nos dizem muita coisa sobre os ensinamentos nos quais insistiam. 


Muitos líderes e grupos cristãos promovem a unidade, os relacionamentos, a vida piedosa e muitos outros valores que são bons e nobres com solidez doutrinária, e alguns até chegam a admitir que "a doutrina divide", por lamentarem o sectarismo na cristandade. Mas a contenda sectária é muitas vezes consequência de orgulho e mundanismo, não da doutrina, e nos casos em que os cristãos se separaram uns dos outros por causa de falsa doutrina que foi introduzida, o Senhor permitiu isto em Sua disciplina de Sua casa. (1 Co 11:19; 1 Pe 4:17; 1 Jo 2:19; 1 Rs 12:24)

Paulo e João foram muito claros ao censurarem os que ensinavam falsas doutrinas. (Gl 5:12; 1 Tm 1:19-20; 2 Tm 2:14-26; Tt 3:10; 2 Jo 10) Será que aqueles mestres heréticos teriam sido autorizados a continuar em comunhão na igreja para preservar a unidade ou por medo de divisão? Será que alguém deveria ter insistido na tolerância para que as relações pessoais, estabelecidas há anos, permanecessem intactas? Quase não é preciso dizer que a resposta a ambas as perguntas é um retumbante "Não"!

Os argumentos de Paulo em defesa da verdade doutrinária são evidência de uma mente brilhante, mas sabemos que eles estão de acordo com a mente de Deus, que inspirou a escrita de Paulo. Quando Paulo declara a verdade do justo imputado sem obras, quando declara que o crente foi predestinado por Deus e, portanto, eternamente seguro, quando defende a verdade central da ressurreição e em vários outros casos, ele caminha de maneira lógica através de um argumento e chega a uma conclusão que o homem espiritual prontamente recebe. (Rm 4; 8:28-39; 1 Co 15; Rm 9 e 11; 1 Co 11:1-16; Gl 3-5)

Aqueles que defendem algum tipo de obras de justiça, ou que promovem uma segurança condicional, ou que sobrepõem o raciocínio humanista à doutrina cristã fundamental, só conseguem fazê-lo tirando versículos ou mesmo passagens inteiras de seus contextos, colocando-as contra a verdade que Paulo apresenta de forma tão eloquente e metódica.

3. Existe uma orientação bíblica sobre como a verdade deve ser ensinada e transmitida às gerações futuras. 

A verdade não era para ser aprendida num seminário sectário e ensinada exclusivamente por um clero ou ministério ordenado. Quando os arranjos humanos são empregados para designar mestres em assembleias cristãs, isso interfere com a linha de responsabilidade que o servo tem diretamente com seu Senhor, e abre a porta para um ensino questionável. (Compare 2 Tm 4:3-4 com Ef 4:7-16). Pode ser que leve anos ou gerações para esses expedientes humanos revelarem seus efeitos nefastos. O padrão descrito nas Escrituras é o de homens que aprendem a doutrina dos apóstolos entre muitas testemunhas (em uma assembleia) e devem passar essa verdade para os homens fiéis que, por sua vez, serão capazes de ensinar outros. (2 Tm 2:2).

O ministério deve ser conforme o dom que cada um recebeu, e esse dom não pode ser dado ou restringido pelos homens ou seus sistemas. Além disso, "se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre." (1 Pe 4:10-11). A sã doutrina é mais bem preservada através de métodos que não interfiram com a obra do Espírito em usar quem quer que seja para ministrar a verdade.

A manutenção da sã doutrina nunca foi apresentada à igreja de Deus como um exercício opcional, mas sempre como um imperativo, se for para os santos estarem "arraigados e edificados" em Cristo e fundamentados na fé (Cl 2:7). É verdade que a sã doutrina pode ser mantida com um espírito legalista entre os cristãos, e devemos nos guardar disso. Somente se Cristo for o objeto do coração, é que essa armadilha será evitada. Que Ele seja a fonte de nosso gozo e nosso motivo para lutar pela "fé, uma vez entregue aos santos".

John Kulp


O que é a sã doutrina?