Se a
expressão “o caminho de Caim” nos fala de buscar o favor divino por meio do
fruto de nosso trabalho, “o erro de Balaão” está ligado à ganância. Balaão se
fazia passar por profeta de Deus para enriquecer. Se você já viu algum pregador
assim então já teve um encontro com Balaão. Nos capítulos 22 ao 24 do livro de
Números você lê a triste história desse mercenário religioso que se prostituía
para profetizar mediante pagamento.
Por
cinco vezes o rei Balaque tentou fazer com que Balaão amaldiçoasse Israel, o
que o falso profeta estava muito disposto a fazer em troca da riqueza
prometida. Mas Deus o impediu. Por fim Deus permitiu que ele seguisse a própria
vontade, para ruína do falso profeta e bênção para Israel. De sua própria boca
Balaão ouviu sair bênção para o povo de Deus e juízo para si, ao afirmar que
veria o Messias de Israel, mas de longe, indicando assim seu destino separado
de Deus. Ele disse: “Eu o verei, mas não agora; eu o avistarei, mas não de
perto” (Nm 24:17).
Mais
tarde, no capítulo 25 de Números, Balaão teria sucesso em corromper o povo de
Deus levando os israelitas a caírem em idolatria depois de terem relações
sexuais com mulheres pagãs. Idolatria é confiar no poder de pessoas e objetos,
ao invés de confiar unicamente em Deus. Se você já viu algum pregador dizer que
você só será abençoado por ele próprio ou se frequentar sua igreja e adquirir
amuletos como azeite do Jardim das Oliveiras, pétalas da rosa de Saron, água do
Rio Jordão ou lenços ungidos, então você já viu Balaão.
Depois
do “caminho de Caim” e do “erro de Balaão”, Judas nos dá mais uma dica de como
detectarmos os lobos e hereges que querem se alimentar das ovelhas ou fazer
discípulos. Ele fala da “rebelião de Corá” (Jd 1:11). Ao ler o capítulo 16 de
Números você encontra Corá, com Datã e Abirão, questionando a liderança de
Moisés e o sacerdócio de Aarão. Sua intenção parecia ser “democratizar” o culto
a Deus, mas ele queria mesmo era usurpar o lugar de autoridade e intercessão
sacerdotal instituído por Deus, tornando-se um intermediário não autorizado
entre Deus e os homens. Hoje não temos Moisés para nos guiar ou Aarão para
interceder por nós. Temos a Cristo, e qualquer homem que se coloque como intermediário
entre Deus e os homens está agindo como Corá.
A
principal característica da apostasia é a exaltação do homem, e não é difícil
encontrarmos líderes cristãos elevados à condição de semideuses, cativando
multidões e sendo venerados por elas. Eles estão pavimentando o caminho para o
anticristo, “o homem do pecado”, aquele que “se exalta acima de tudo o que se
chama Deus ou é objeto de adoração” (2 Ts 2:3-4).
Por
que tanta gente é enganada pelos falsos profetas e mestres da cristandade? Uma
razão é a proliferação dos chamados “testemunhos”. Alguns deixam de ler a
Palavra de Deus para seguirem testemunhos de homens. Basta alguém contar uma
bênção que recebeu, e imediatamente sua experiência é aceita como verdade. Ao
mesmo tempo revelações, sonhos e sensações são mais valorizados do que a
própria Palavra de Deus. Enquanto alguns parecem ter uma conexão banda larga
com o céu, outros vivem frustrados por não sentirem coisa alguma.
Embora
Deus possa, através do Espírito, trazer ao coração de uma pessoa a direção de
como agir em uma determinada situação, esta é a exceção, não a regra da vida
cristã. Muitos que se deixam levar por essas coisas acabam dependentes de
falsos profetas e incapazes de ter uma vida normal sem alguma mensagem vinda do
além. Hoje o velho horóscopo do jornal ganhou os púlpitos.
A
carta aos Hebreus diz que “há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias
maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias
falou-nos por meio do Filho” (Hb 1:1-2). Jesus ressuscitou, subiu aos céus e
deu os dons, designando “alguns para apóstolos, outros para profetas” (Ef
4:11). Deus não mais revela a sua Palavra como fazia a Israel, e nem como a
revelou aos apóstolos. Estes lançaram os fundamentos da igreja, tendo Paulo
recebido a missão de completar a Palavra de Deus, como ele explica em
Colossenses 1:25. Hoje Deus usa os dons de “evangelistas, pastores e mestres”
para ministrar aquilo que já está revelado nas escrituras e nas epístolas dos
apóstolos.
Apegar-se
à Bíblia, a Palavra de Deus, é a salvaguarda para você não ser enganado pelas
duas principais tendências que levam os cristãos a se desviarem dela. O
apóstolo nos fala delas no capítulo 2 de sua carta aos Colossenses, a saber, o
misticismo e o asceticismo, às vezes mesclados com legalismo. Aos mais
místicos, que se deixam impressionar por sonhos, visões e revelações, Paulo
alerta: “Não permitam que ninguém, que tenha prazer numa falsa humildade e na
adoração de anjos, os impeça de alcançar o prêmio. Tal pessoa conta
detalhadamente suas visões, e sua mente carnal a torna orgulhosa.” (Cl 2:18).
Aos
ascéticos e legalistas ele diz: “Já que vocês morreram com Cristo para os
princípios elementares deste mundo, por que é que vocês, então, como se ainda
pertencessem a ele, se submetem a regras: ‘Não manuseie!’ ‘Não prove!’ ‘Não
toque!’? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se
baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de
sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o
corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne” Cl 2:18-23).
Mário Persona