domingo, 24 de setembro de 2017

O Evangelho



A palavra "evangelho" significa "boas novas" ou "notícias alegres", e é usada na Escritura para indicar que Deus tem boas notícias para o homem. Esse fato mostra que Deus está interessado na bênção do homem.

As Escrituras registram que houve diferentes mensagens do evangelho que foram pregadas aos homens em diferentes momentos da história, prometendo diferentes formas de bênção vindas de Deus. Unir esses chamados do evangelho em uma única mensagem é um erro e não leva em conta os caminhos dispensacionais de Deus.

As boas notícias de Deus foram anunciadas pela primeira vez a Adão e Eva no jardim do Éden. Elas prometiam que Satanás seria esmagado sob o julgamento de Deus (Gên 3:15, Romanos 16:20 e Ap 20:10), mas ela não foi especificamente chamada de evangelho. As boas novas foram anunciadas a Noé, pelas quais ele foi levado a construir uma arca para salvar a sua casa (Heb 11:7), embora, novamente, isso não tenha sido chamado de evangelho.

"O evangelho" foi pregado a Abraão, prometendo a bênção por ter sido considerado justo por Deus (Gálatas 3:8).

"O evangelho" foi pregado à nação de Israel, prometendo-lhe a libertação da escravidão no Egito e uma herança material na terra de Canaã (Êxodo 3:7-8, Números 13:26, Hebreus 4:2-3).

"O evangelho do reino" foi pregado à nação de Israel por João Batista (Mateus 3), pelo Senhor Jesus Cristo (Mateus 4) e pelos apóstolos (Mateus 10), prometendo que, se aceitassem Cristo como seu Messias, Ele estabeleceria o reino de uma maneira literal como retratada pelos profetas do Antigo Testamento. Mas os judeus rejeitaram o Senhor Jesus Cristo (Isaías 49:4; 50:5-7; 53:1-4; Miquéias 5:2), e consequentemente, essa oferta do evangelho do reino foi adiada (Miquéias 5:3; Mateus 12:14-21, Romanos 11:7-11). Ele será pregado novamente em um dia futuro (na 70ª semana de Daniel 9:27) pelo remanescente judaico fiel (Salmos 95-96 e Mateus 24:14). Muitos naquele dia serão abençoados por ele – incluindo os gentios (Isaías 55-56, Apocalipse 9:7). Eles participarão das bênçãos terrenas do reino que este evangelho promete.

O evangelho pregado nestes tempos Cristãos tem pelo menos sete títulos, transmitindo vários aspectos da mensagem das boas novas de Deus ao mundo de hoje. Esse evangelho anuncia que Deus em graça desceu ao homem na Pessoa de Cristo, e por meio de Seu sofrimento expiatório, de Sua morte e do Seu sangue derramado garantiu salvação aos pecadores que creem. E mais do que isso, anuncia que Deus ressuscitou a Cristo de entre os mortos e O assentou à Sua mão direita nas alturas, e o crente agora tem um lugar de aceitação nEle, em Quem estão todas as suas bênçãos. A pessoa que crê nessa grande mensagem é selada com o Espírito Santo (Efésios 1:13) e é feita parte da Igreja de Deus, o corpo e a noiva de Cristo (Efésios 1:22-23). Assim, esse evangelho é um chamado celestial de crentes para um destino celestial com Cristo (1 Coríntios 15:48-49, 2 Coríntios 5:1, Ef 1:3, 2:6, 6:12, Fil. 3:20; Col 1:5; 3:1-2; Heb. 3:1; 8:1-2; 9:11; 10:19-21; 11:16; 12:22; 13:14; 1 Pedro 1:4). Todos os que creem nesse evangelho viverão e reinarão com Cristo nos céus sobre a Terra no Milênio (Ap 21:9-22:5).
  • Quando ele é chamado "o Evangelho da Graça de Deus" (Atos 20:24), está se referindo à vinda de Cristo desde os céus em graça para morrer pelos pecadores.
  • Quando se chama "o Evangelho da Glória de Deus" (1 Tim. 1:11), está enfatizando a ascensão de Cristo ao alto em glória e a aceitação do crente nEle ali diante de Deus. (Paulo chamou esse aspecto de "meu Evangelho" - Romanos 2:16, 16:25, 2 Timóteo 2:8).
  • Quando é chamado "o Evangelho de Deus" (Rom 1:1), está apontando para a fonte das boas novas – o próprio Deus que desenhou o plano da salvação.
  • Quando se chama "o Evangelho de Seu Filho" (Romanos 1:9), está se referindo ao amor de Deus que O levou a dar o mais precioso Objeto de Seu coração para salvar os pecadores.
  • Quando se chama "o Evangelho de Cristo" (Fil. 1:27), está se referindo ao grande tema do Evangelho – Cristo e Sua glória.
  • Quando é chamado "o Evangelho da Paz" (Efésios 6:15), está se referindo à paz prática que nossos pés pregam (isto é, nossas vidas) enquanto caminhamos por este mundo conturbado.
  • Quando se chama "o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo" (2 Tessalonicenses 1:8), não está somente enfatizando a salvação de nossas almas, mas também a salvação de nossas vidas, tornando Cristo o Senhor em nossas vidas de forma prática.

Esse evangelho exclusivamente Cristão não deve ser confundido com o evangelho do reino. Como mencionado, o destino daqueles que creem no evangelho da graça e glória de Deus é viver e reinar com Cristo nos céus em Seu reino milenial. Enquanto que o destino daqueles que creem no evangelho do reino é viver na Terra no reino milenial de Cristo (Apocalipse 7). Essas são duas esferas diferentes de bênção – celestiais e terrestres. Essas distintas mensagens não estão indo ao mundo ao mesmo tempo, pois haveria confusão se fossem pregadas juntas.

"O evangelho eterno" (Apocalipse 14:6-7) são as boas novas que a própria criação prega ao longo dos séculos. Elas dão testemunho da glória de Deus (Salmo 19:1), da sabedoria e inteligência de Deus (Salmo 147:4-5), do poder de Deus (Rom 1:19-20) e da bondade de Deus (Atos 14:17). Mesmo que pessoas nunca entrem em contato com o evangelho da graça de Deus, que nos fala da obra consumada de Cristo, elas ainda podem ser alcançadas e abençoadas por Deus ao crerem nesse testemunho na criação. A prova de sua fé no Deus Criador será vista neles ao temerem a Deus e praticarem a justiça. Como resultado, eles serão "aceitos"(trad. Brasileira) em Cristo (Atos 10:35). Se eles morrerem na sua fé simples, irão para o céu, mas eles não farão parte da Igreja de Deus, porque para isso é necessário o selo do Espírito, que só ocorre quando alguém crê na obra consumada de Cristo (Efésios 1:13).

Bruce Anstey







sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Vida Após a Morte - O que a Bíblia Ensina



A Morte, o Estado Intermediário, a Ressurreição e o Destino Final

O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE A VIDA APÓS A MORTE

O assunto da vida após a morte invariavelmente levanta muitas questões e muito interesse sempre que surge tal tópico em conversas. Embora talvez nunca tenhamos nossas questões satisfatoriamente respondidas enquanto estivermos aqui neste mundo, somos gratos que o evangelho “trouxe à luz” muitas coisas concernentes à “vida (para a alma) e à incorruptibilidade [ou imortalidade]” (para o corpo) segundo lemos em II Timóteo 1.10.

A Bíblia não foi escrita para meramente satisfazer a curiosidade humana, mas para nos ocupar com o Senhor Jesus Cristo que é o único capaz de encher nossos corações e nossas mentes. Deus, todavia, tem se agradado em nos revelar muitas coisas em sua Palavra, concernentes ao futuro de nossas almas de modo que possamos ter uma “completa certeza da esperança” (Hebreus 6.11). "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens" (1 Coríntios 15.19). Felizmente, temos esperança no próximo mundo também.

Os comentários que se seguem são alguns fatos que sabemos sobre a morte, o estado intermediário, a ressurreição e o destino final dos seres humanos.

A MORTE

O homem é um ser triúno, isto é, ele é feito de três partes. A Bíblia diz, “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Tessalonicenses 5.23). Seu espírito é a parte inteligente que tem a consciência de Deus (Jó 32.8; Isaías 29.24). Sua alma é o lugar de suas emoções, apetites e desejos (Genesis 27.4, Cantares de Salomão 1.7). E seu corpo é, logicamente, a parte física do seu ser.

Morte física ocorre no ser humano quando a alma e o espírito se separam do corpo. Tiago diz, “o corpo sem o espírito está morto” (Tiago 2.26). As Escrituras definem isto como “... deixar o corpo” (2 Coríntios 5.8). Veja também Gênesis 35.18 e 49.33; Jó 14.10; Eclesiastes 12.7; Lucas 23.46 e Atos 7.59.

A palavra “Morte” é usada nas Escrituras pelo menos em sete diferentes modos. Em cada caso tem o sentido de separação.

• Morte física é ter a alma e o espírito separados do corpo (Tiago 2.26)

• Morte espiritual é estar espiritualmente separado de Deus por não ter a nova vida (Efésios 2.1; Colossenses 2.13).

• Segunda morte é estar eternamente separado de Deus no lago de fogo (Apocalipse 20.6,14).

• Morte apóstata é estar separado de Deus por abandonar sua profissão de fé (Judas 12; Apocalipse 8.9).

• Morte nacional é não mais existir como uma nação na terra (Isaías 26.19; Ezequiel 37; Daniel 12.2).

• Morte judicial é estar posicionalmente separado de toda ordem de pecado sob a liderança de Adão pela morte de Cristo (Romanos 6.2; 7.6; Colossenses 3.3).

• Morte moral é estar separado em comunhão com Deus (Romanos 8.13; I Timóteo 5.6).

É prudente pensar que o pecado é a causa de cada um destes aspectos da morte! Na verdade, “o salário do pecado é a morte” (Rm 5.12, 6.23).

A Bíblia nos diz que há só dois estados no qual uma pessoa morre (fisicamente). Há os que “morrem no Senhor” (Apocalipse 14,13) e aqueles de quem se diz “morrereis em vossos pecados” (João 8.24). Morrer nos seus pecados é ter partido deste mundo sem ter tido seus pecados colocados de lado diante de Deus judicialmente pela obra de Cristo na cruz. A pessoa que morre nesta terrível condição será responsável em pagar o preço de seus pecados sob o justo juízo de Deus por toda a eternidade. Morrer no Senhor é morrer sendo salvo e seguro de todo julgamento sob a proteção do sangue de Cristo, o Filho de Deus (João 5.24; I João 1.7).

A morte do crente é “preciosa aos olhos do SENHOR” (Salmo 116,15), enquanto a morte de um incrédulo é algo que Deus não tem prazer nela, pois Ele disse, “Vivo eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio” (Ezequiel 33.11). Deus não está “querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (II Pedro 3.9).

A morte, entretanto, não significa extinção, pois todos os mortos "para Ele vivem" (Lc 20.38). Os homens gostam de pensar que a morte é fim da existência de modo que possam escapar das consequências de seus pecados, mas as Escrituras falam que "aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo depois disso o juízo" (Hb 9.27). O corpo é mortal (sujeito à morte como vemos em Rm 6.12, 8.11; 1Co 15.53,54; 2Co 4.11), mas a alma e o espírito são imortais. E assim como a Bíblia nos diz que há somente dois modos de viver: "para si" ou "para Ele" (2Co 5.15), também nos diz que há somente dois modos de morrer: "no Senhor" (Ap 14.13) ou "em nossos pecados" (Jo 8.24). Morrer "no Senhor" é morrer estando salvo e seguro de todo juízo sob a proteção da obra consumada de Cristo e assim gozar de eterna bênção com Ele para sempre. Morrer "em nossos pecados" é sair deste mundo eternamente condenado pelo juízo. A morte do crente é preciosa à vista do Senhor (Sl 116.15), enquanto que a morte de um incrédulo é algo que o Senhor não tem prazer (Ez 33.11), pois Ele não quer que nenhum pereça (2Pe 3.9).

RAZÕES PARA A MORTE DO CRENTE

A morte de um crente é chamada de "dormir" nas Escrituras e se refere ao corpo por que a alma não dorme (II Samuel 7.12; João 11.11; Atos 7.60, 13.36; 1 Coríntios 11.30, 15.6,18,20,51; 1Ts 4.14, 5.10). Mateus 27.52 diz claramente, “e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados”.

Há pelo menos três principais razões para a morte do crente:

• Primeiro, ela pode ser “para a glória de Deus” (João 11.4, 21.18,19; Filipenses 1.20). Ele pode ser chamado à morte como um mártir ou por outra causa de modo que um testemunho do Senhor seja dado àqueles que a testemunham.

• Segundo, o crente morre por causa de seu trabalho de servir ao Senhor na terra já estar completo (Atos 13.36; II Timóteo 4.7; II Pedro 1.14).

• Terceiro, o crente pode morrer sob a mão corretora de Deus. É possível para um cristão se comportar tão pobremente neste mundo como testemunho para o Senhor que Deus poderá tirá-lo de seu lugar de testemunho na terra. Seria chamado para casa no céu (João 15.2; Atos 5.1-11; I Coríntios 11.30; Tiago 5.20; I João 5.16).

A VITÓRIA DE CRISTO SOBRE A MORTE

Cristo passou pela morte e conquistou a grande vitória sobre ela para os filhos de Deus. Hebreus 2.14,15 diz, “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão”.

O ESTADO INTERMEDIÁRIO

Seol e Hades Seol (em hebraico do antigo testamento) e Hades (em grego do novo testamento) são uma e a mesma coisa. Enquanto a morte é a condição do corpo sem a alma e o espírito, seol ou hades [1] é a condição da alma e do espírito sem o corpo. A morte demanda o corpo, hades pede pela alma e espírito. Hades é uma condição ao invés de um lugar de almas e espíritos que partiram e simplesmente significa "o mundo do invisível".

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[1] "Concise Bible Dictionary" p. 357, "J. N. Darby translation", Salmo 6.5 (nota de rodapé), Mt 11.23 (nota de rodapé), F. W. Grant, "Facts and Theories as to a Future State" p. 144, "Help and Food", vol. 14, p. 140, vol. 21, p. 138, H. E. Hayhoe, "Paradise", p. 2, A. J. Pollock, "Hades and Eternal Punishment", p. 3,10-12. Há ocasiões, entretanto, quando seol é ainda mais abrangente incluindo também a sepultura onde o corpo jaz (Gn 37.35, 42.38, 44.29,31; Nm 16.30,33; I Rs 2.6,9; Sl 49.15, 141.7).
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É uma condição temporária de pessoas que deixaram o corpo num intervalo entre a morte e a ressurreição. É também chamada de estado de separação (ou intermediário) uma vez que a morte separou a alma e o espírito do corpo. Seol ou Hades são expressões vagas usadas em geral para descrever os espíritos que partiram, sejam eles justos ou injustos, salvos ou perdidos. Assim é aplicado para ambos [2], o Senhor Jesus Cristo (At 2.27,31, 13.35) e os santos (1Co 15.55), tanto quanto para os perdidos (Lc 16.23, etc.). Pessoas neste estado fora do corpo são totalmente conscientes tendo memórias e emoções, etc. (Lc 16.23-25), mas não têm conhecimento das coisas que estão acontecendo no presente neste mundo, uma vez que estão em outro (Jó 14.21; Ec 9.5; Isaias 63.16; I Sm 28.15-19 quando trazido para cima, Samuel teve de ser informado da condição presente de Israel). O fato de que "os mortos não sabem coisa nenhuma" (Ec 9.5) não significa que eles não têm consciência ou que não existam. O contexto de Eclesiastes diz respeito às coisas "debaixo do sol" (Ec 1.3, etc.), ou seja, neste mundo. Você não sabe o que está acontecendo exatamente agora no palácio de Buckingham, porque você não está lá, mas isto não significa que você está inconsciente. Você simplesmente não está lá para saber.

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[2] J. N. Darby, "Collected Writings", vol. 13, p. 179, C. E. Stuart, "The Unclothed State", p. 6, W. Scott, "The Book of Revelation", p. 49, 414, F. W. Grant, "Facts and Theories as to a Future State", p. 151, "Help and Food", vol. 14, p. 140, vol 30, p. 57, "Scripture Truth", vol.28, p.247. !3
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Na versão inglesa Autorizada de King James, a palavra hades é, infelizmente, traduzida como "inferno" [3]. Isto pode confundir algumas pessoas, pois inferno, é o lugar final e eterno do condenado e é distintamente diferente do hades, o estado temporário daquele que partiu. Os seguintes versículos no NT (versão de João Ferreira de Almeida), onde está "inferno" deveria ser "hades": Mt 11.23, 16.18; 1Co 15.55; Ap 1.18, 20.13-14.

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[3] A versão de João Ferreira de Almeida em português também traduz hades como "inferno" em algumas passagens.
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Desde a vinda de Cristo temos agora o privilégio de saber mais a respeito da condição de "fora do corpo" (hades). Há uma divisão no hades entre os justos e os injustos e um grande abismo está colocado entre eles de modo que ninguém pode passar de um para outro (Lc 16.26). Sabemos agora que os justos no hades estão no paraíso e os injustos estão em prisão. Uma ilustração foi usada por A. C. Hayhoe no passado e ajuda a entender esta divisão. O salão de reuniões onde ele vivia foi construído de tal modo que ao entrar você imediatamente estava diante de um patamar onde de um lado havia escadas que levavam para o andar superior e, do outro lado, escadas que levavam para o porão. Caso você visse alguém, andando na rua, entrar nesse prédio e desaparecer porta adentro (o que ele estava comparando com a morte), não veria exatamente, como um observador externo, se ele se dirigia ao andar superior ou ao porão. O mesmo ocorre quando alguém passa pela morte. O corpo vai para a sepultura e a alma e espírito vão para o hades: para o paraíso ou prisão.

Paraíso - Os justos no hades estão no paraíso com Cristo (Lc 23.43; 2Co 12.1-4; Ap 2.7). Paraíso significa "o jardim das delícias" e descreve o estado dos justos repousando em bênção consciente. O apóstolo Paulo compara isto com o terceiro céu (2Co 12.1-4; Mt 18.10). Ele também se refere ao crente nesta condição como estando "despido" (2Co 5.4) o que é "muito melhor" que estar vivo neste corpo neste mundo (Fp 1.23). Os Judeus criam que Abraão, o patriarca deles, estava no mais alto lugar de felicidade. Assim quando o Senhor falou de Lázaro estando no "seio de Abraão" eles puderam entender claramente que Ele se referia ao seu estado de bênção (Lc 16.22).

Agora que podemos falar mais especificamente do estado desencarnado do justo estando no paraíso, hades, o termo mais vago e geral quase desaparece quando aplicado ao crente que partiu. É usado só uma vez nas epístolas com respeito aos santos (1Co 15.55). Para ilustrar isto poderíamos falar de uma pessoa que conhecemos que tenha ido para a Inglaterra, mas após saber de seu particular paradeiro, diríamos que ela (a pessoa) se encontra em Londres, morando com a família real. Tal é o caso com o crente que partiu deste mundo através da morte. Ele não está simplesmente no hades, mas "com Cristo" no paraíso (Lc 23.43; Fp 1.23).

Prisão - Os injustos no hades estão em uma prisão (Is 24.21-22 "os reis da terra"; 1Pe 3.19-20). É um estado temporário onde as almas e espíritos dos pecadores que partiram estão confinadas esperando pela sentença final no grande trono branco (Ap 20.11-15). Enquanto neste confinamento eles estão sofrendo tormentos (Lc 16.23-24; Is 57.20-21). Embora esta prisão dos espíritos que partiram seja somente um estado temporário, os que entram nela têm seu destino irrevogável e eternamente selado.

Alguns ficam perplexos quanto ao que significa Cristo pregando "aos espíritos (homens) em prisão" (1Pe 3.18-20) e supõem que Ele deve ter ido, após sua morte, com a missão de dar aos perdidos uma última chance de escaparem. Esta suposição é, certamente, um erro. O fato de que foi pregado aos espíritos em prisão é inegável, mas foi quando eles eram homens sobre a terra que Cristo lhes pregou pelo Espírito através de Noé (Gn 6.3; 1Pe 1.11, 3.18-19). Eles rejeitaram a pregação e consequentemente estão agora em prisão. O fato de que lhes foi pregado mostra assim que não estão neste lugar de prisão injustamente, mas a pregação teve lugar quando eles estavam na terra e não após Cristo ter morrido.

O abismo - O abismo (Lc 8.31; Ap 9.1-2,11, 11.7, 17.8, 20.1-3) é o lugar temporário de confinamento para os espíritos angélicos maus. Os anjos maus serão lançados no abismo quando o reino de Cristo se estabelecer na terra (Is 24.21-22). Alguns anjos maus já estão lá (2Pe 2.4; Jd 6). Eles permanecerão lá até o grande dia de julgamento no fim do Milênio (os mil anos de reinado de Cristo) que neste tempo serão lançados no lago de fogo (2Pe 2.4; Jd 6; Mt 35.41). Satanás também será preso no abismo durante o Milênio (Ap 20.1-3) após o qual ele será lançado no lago de fogo (Mt 25.41). "Tartarus" (2Pe 2.4 "no mais profundo da escuridão" como traduzido na versão de J. N. Darby) aparentemente é um lugar especial de confinamento solitário no abismo no qual alguns dos anjos caídos estão sendo temporariamente mantidos devido à malignidade pessoal deles (Jd 6). Anjos não são sujeitos à morte e nem participam da ressurreição (Lc 20.35-36).

RESSURREIÇÃO

Assim como a morte (física) é a separação da alma e espírito do corpo (Tg 2.26), a ressurreição é a reunião da alma e espírito com o corpo (Lc 8.55). O túmulo é a custódia temporária do corpo, hades é a custódia temporária da alma e espírito. Todos que morrem, sejam justos ou injustos, irão experimentar a ressurreição. Mas não serão todos ressuscitados simultaneamente. Há duas ressurreições (Jo 5.29; At 24.15). A "primeira ressurreição" (Ap 20.4-6) chamada de "ressurreição da vida" (Jo 5.29) ou "ressurreição dos justos" (Lc 14.14) é a ressurreição somente das pessoas justas. Esta ressurreição é referida como a ressurreição "de entre os mortos" (Mt 17.9; Fp 3.11; Cl 1.18, etc.) porque ela é uma coisa seletiva na qual os justos são tirados de entre os maus. A primeira ressurreição tem lugar em três fases: primeiro, "Cristo as primícias" (1Co 15.23; Mt 28.1-8), então, "os que são de Cristo na Sua vinda" (1Co 15,23, 1Ts 4.15-18), depois, por último, aqueles que se voltam a Deus durante o período da tribulação e são martirizados (Ap 6.9-11, 15.2) são ressuscitados no fim dos sete anos (Ap 14.13, 20.4). Todos que participam da primeira ressurreição gozarão de uma porção celestial com Cristo e reinarão com Ele sobre a terra (Ap 5.9-10). A segunda ressurreição, chamada de "ressurreição de condenação" (Jo 5.29), ou "ressurreição dos injustos" (At 24.15) é a ressurreição das pessoas más que morreram em seus pecados. Eles ressuscitarão juntos depois dos mil anos de reinado (Milênio) de Cristo (Ap 20.7, 11-15) para ficarem diante do "grande trono branco" e receberão sua sentença após o julgamento. Todos que participam desta ressurreição, que é o resto dos mortos, serão lançados no lago de fogo para sempre.

Glória - Ressurreição para o crente é o completo e final aspecto de livramento do todo o efeito e consequência do pecado. Quando a primeira ressurreição tiver lugar na vinda do Senhor (arrebatamento) cada filho de Deus que partiu deste mundo pela morte será ressuscitado com corpos incorruptíveis (1Co 15.51-55 "isto que é corruptível se revestir de incorruptibilidade"; 1Ts 4.15-18). Os corpos dos cristãos passarão por uma transformação quando forem arrebatados para encontrar com o Senhor nos ares (1Co 15.52-54 "isto que é mortal ser revista de imortalidade"). Os corpos dos santos (aqueles que ressuscitaram e os que foram arrebatados) serão glorificados como o corpo do Senhor Jesus Cristo que Ele mostrou aos seus discípulos na ressurreição (Fp 3.21; Rm 8.17,30; Lc 24.39-43). Quando glorificados os santos não aparentarão seus defeitos e envelhecimento, etc., mas estarão no "orvalho da mocidade" (compare Salmo 110.3 com Fp 3.21). Os santos irão também reconhecer uns aos outros naquele dia, como Pedro, Tiago e João reconheceram Moisés e Elias no monte da transfiguração (Lc 9:28-36). Além de terem corpos glorificados os santos irão também experimentar uma moral permanente em semelhança a de Cristo (1Jo 3.2). A natureza caída e pecaminosa será erradicada para sempre (Hb 11.40, 12.23 "feitos perfeitos"). O apóstolo Paulo fala desse estado glorificado como sendo "revestidos da nossa habitação, que é do céu" (2Co 5.1-2). Também se faz referência a isso como a fase final da salvação dos santos a qual lhes foi dita que esperassem por ela (Rm 5.9, 8.11,19-25, 13.11; Hb 9.28; 1Pe 1.5). Assim a morte será "tragada pela vitória" (1Co 15.54). Mais que isto, na aparição de Cristo (depois de sete anos de tribulação), os santos em estado glorificado serão revelados ao mundo como associados com Cristo (2Ts 1.10). Eles viverão e reinarão com Ele sobre a terra no reino Milenar (Ap 20.4-6). Este estado glorificado é eterno (2Tm 2.10).

Frequentemente ouvimos cristão dizerem dos entes queridos que partiram para estar "com Cristo" em um estado intermediário ("despidos") como estando agora na glória. O estado glorificado [4] é aquele em que os santos serão trazidos após a vinda do Senhor (arrebatamento). Cristo está na glória agora (1Pe 1.21; 2Co 3.18) e está aguardando para trazer Seus santos para ali na Sua vinda. Os santos "fora do corpo" estão no presente "com Cristo", mas não glorificados como Cristo ainda.

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[4] J. N. Darby, "Collected Writings", vol. 31, p. 179, p. 185.
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Inferno, o lago de fogo - Depois que o reinado de mil anos de Cristo (o Milênio) terminar, terá lugar a segunda ressurreição. O restante dos mortos que são os maus (uma vez que os justos ressuscitam na primeira ressurreição), será levantado para ficar diante do "grande trono branco" sobre o qual o Senhor se sentará como Juiz. Os livros serão abertos e suas vidas reveladas. Consequentemente, irão receber a sentença que lhes cabe do julgamento e serão enviados para a perdição eterna no lago de fogo (Ap 20.5,11-15). O lago de fogo é o lugar dos condenados e foi preparado para o diabo e seus anjos, mas todas as criaturas más e não arrependidas, incluindo homens e mulheres responsáveis serão encontradas lá no final (Mt 25.41,46; Ap 20.15, 21.80). A expressão "lago de fogo" é linguagem simbólica descrevendo a punição eterna do perdido. Um lago é um lugar onde rios e correntes de água terminam. Tudo que flui para ele é coletado e confinado lá. Fogo é um símbolo de julgamento nas Escrituras. Assim o lago de fogo é o lugar de confinamento sob o juízo de Deus.

Cada pessoa lançada no lago de fogo será lançada lá viva, pois eles estarão ressuscitados nesse tempo. Seus corpos serão constituídos para durar por eras eternas: nunca morrerão, mas existirão eternamente na segunda morte no lago de fogo. Não haverá crianças ou pessoas mentalmente desabilitadas, pois elas não atingiram a idade de responsabilidade em suas vidas. Deus é fiel e justo em não permitir que qualquer destes "pequeninos" pereça em uma eternidade perdida (Mt 18.10-14; II Sm 12.23, Gn 18.25). Eles estão todos sob a proteção do sangue de Cristo mesmo que não sejam inteligentemente aptos para apreciar o valor dele. As pessoas que forem para o lago de fogo serão seres humanos responsáveis que tiveram plena oportunidade para receber e crer no testemunho que Deus lhes deu de Si mesmo, mas conscientemente rejeitaram. Também não haverá ninguém lá no lago de fogo arrependido de seus pecados ou genuinamente pesaroso pelo que fizeram quando em seus corpos aqui na terra. Haverá "choro", mas será em autocomiseração. Haverá também "ranger de dentes", mas será como insultos e maldições lançadas contra Deus (Mt 8.12, 13.42,50, 24.51, 25.30).

"Inferno" e lago de fogo são o mesmo lugar. Será a habitação final e eterna dos perdidos. "Inferno" é a palavra usada para traduzir "Gehena" que é uma palavra grega usada para traduzir as palavras hebraicas "Vale de Hinom". O "Vale de Hinom" é um vale ao sul de Jerusalém para onde se dirigia o esgoto. Nela existia um fogo chamado "Tofete" (2 Reis 23.10, Is 30.33) queimando constantemente dia e noite com o propósito de consumir o refugo da cidade (Is 66.24). "Gehena" aparece no NT doze vezes e é corretamente traduzido por "inferno" ou "inferno ardente" [5] (Mt 5.22,29,30, 10.28, 18.9, 23.15,33; Mc 9.43,45,47; Lc 12.5; Tg 3.6). Vai também além do sentindo literal de "Vale de Hinom" referindo-se também ao lugar de eterno juízo.

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[5] Há uma grande diferença entre hades e gehena. Embora ambas sejam traduzidas como "inferno" na versão de João Ferreira de Almeida, somente gehena deveria ser traduzida como "inferno". Hades não é o inferno, mas gehena é. Hades é uma condição, gehena é um lugar (onde a pessoa como um todo, incluindo o corpo, é lançada como lemos em Mt 5.29,30, 10.28, 18.8,9). Hades é temporário (Ap 20.14), gehena é eterno (Mc 9.43). Hades afeta a alma (At 2.27,31), gehena afeta ambos, corpo e a alma (Mt 10.28)
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Ao contrário da crença popular, não há ainda pessoas no inferno (lago de fogo). As primeiras pessoas colocadas lá serão a Besta e o Falso Profeta (Ap 19.20). Pessoas perdidas estão no presente em prisão no hades, sofrendo tormentos, mas estas pessoas irão mais tarde ser consignadas, depois de ressuscitadas, para o inferno para sempre. Para ilustrar a diferença entre a condição temporária do perdido, na prisão do hades, e o lugar final eterno do perdido no lago de fogo, suponha que uma pessoa é pega quebrando a lei e ao ser apreendida é colocada na cadeia municipal (um lugar temporário de confinamento). Ela é mantida lá até o dia de seu julgamento quando for levada diante do juiz e sentenciada por seus maus feitos. Ela é então colocada na penitenciária estadual onde servirá sua pena. A cadeia municipal representaria a prisão no hades e a penitenciária estadual o inferno (lago de fogo).

O diabo e seus anjos que serão confinados no abismo serão também lançados no lago de fogo (Mt 25.41), de modo que toda criatura má e sem arrependimento terá sua parte na eterna perdição.

Eterna perdição (2Ts 1.9; Fp 3.19; Mt 7.13; 2Pe 2.1,12, 3.16, etc.) que será a porção do perdido, não significa o cessar de existência como alguns aniquilistas ensinam. Por exemplo, se você pegou um machado e destruiu uma mesa magnificamente construída o que resta é um material imprestável num monte de entulho no chão na mesma quantidade que havia naquela bela e útil mesa. Uma vez destruída nunca terá mais a utilidade de quando foi feita. O homem foi criado para a glória de Deus (Ap 4.11). Se ele for para a perdição eterna ele não mais serve para o propósito que foi criado. Isto é chamado de perdição "eterna" porque não há recuperação para esta condição. Ela é eterna (Mc 3.29).

Assim, considerando o destino do perdido em eterna separação de um Deus que é luz e amor, sejamos mais solenes ao ver que isso logo será a porção daqueles que não creem em Deus e não obedecem ao evangelho de Cristo.

Bruce Anstey, Junho de 1990



quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Em Qual Evangelho Devemos Crer? - A. G. Doughty



A conhecida palavra 'Evangelho' significa simplesmente alegres notícias ou boas novas. Como sempre, há muito que ela é identificada como uma proclamação de cristianismo. Assim nós falamos de 'pregadores do Evangelho', 'missões Evangelísticas', etc.

O EVANGELHO DE DEUS tem sido anunciado por quase dois mil anos. Ele não se baseia em frágeis fundamentos humanos, mas na Palavra do Deus eterno. O que ele propõe será realizado, não pelos débeis esforços de homens, mas pelo grandioso poder de Deus.

Único, entre todas as propostas oferecidas para satisfazer aos anseios de uma humanidade caída, ele mostra a verdade nua quanto à natureza pecaminosa do homem. Único, ele propõe aquilo que satisfaz à consciência atribulada e preenche o vazio do coração. Único, ele responde às graves questões da morte e de nossa responsabilidade para com Deus.

UMA MENSAGEM SINGULAR

O que é, então, esse maravilhoso Evangelho? Ele é, como as Escrituras simplesmente afirmam, o "EVANGELHO DE DEUS... acerca de Seu Filho... Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rm 1.1-4). Ele nos diz que há um Deus pessoal com Quem nós, como Suas criaturas, temos necessariamente muito a ver. O Evangelho nos diz que a raça humana, outrora criada em perfeição, é agora uma raça caída e pecadora, um fato atestado por cada prisão, cada cemitério e ainda por cada consciência humana. Ele anuncia ainda o magnificente fato de que Deus nunca abandonou Suas criaturas e, apesar do ser humano nunca haver encontrado o seu caminho de volta a Deus, ou mesmo ter procurado fazê-lo, Deus, contudo, interveio por intermédio dos profetas e mensageiros e, por último, pela dádiva de Seu Filho. Ele nos conta a incomparável história da vinda de Jesus, o Filho de Deus, a este mundo. Você, sem dúvida, conhece esta história. Você já ouviu falar da Criança de Belém; do Homem à beira do poço de Sicar; de JESUS de Nazaré.

UMA OBRA COMPLETA

Você deve saber que Ele foi rejeitado e crucificado como um malfeitor. Mas, será que você já ouviu o que está revelado no Evangelho de Deus acerca de tudo o que a terrível morte de Jesus significa? A mesma cena do maior ódio do homem foi a ocasião do maior resplandecer de amor divino, pois Jesus morreu não como um mero mártir, mas como o sacrifício oferecido por Deus pelos pecados (1 Pedro 2.24). Ele morreu como nosso Substituto. Ele recebeu o julgamento de Deus contra o pecado para expressar o amor de Deus pelos pecadores. A moderna teologia pode desprezar ou desdenhar este aspecto da morte de Cristo, mas é isto o que afirma o Evangelho de Deus.

Ele também nos conta que Deus ressuscitou-O da morte e O fez sentar no mais alto pináculo de glória, como Príncipe e Salvador de todos os homens (Atos 5.31). O Evangelho de Deus é acerca deste glorioso e ressuscitado Salvador. Ele apresenta Alguém cuja obra completa irá satisfazer sua consciência e cujo amor pode preencher seu coração. Ele nos diz que toda bênção para agora e para a eternidade são encontradas nEle. O conhecimento presente do perdão dos pecados (Atos 13.38), a justificação e a paz com Deus (Romanos 5.1), o imediato acesso à presença e favor de Deus (Romanos 5.2), a felicidade presente e a satisfação na dádiva do Espírito Santo (João 4.14), além da aptidão para dirigir-se a Deus em um espírito de filiação (Gálatas 4.6), são algumas das bênçãos presentes ao alcance do mais simples e humilde crente no Senhor Jesus Cristo.

UM FUTURO GARANTIDO

Também com respeito ao futuro toda questão é divinamente estabelecida. O crente é libertado do medo da ira vindoura (1 Tessalonicenses 1.10); ele olha para Alguém que virá reinar em justiça (Atos 17.31); a ele é prometido que, compartilhando a presente rejeição de Cristo, ele irá também compartilhar a glória do Seu Reino vindouro (Romanos 8.16,17); e, por fim (e mais doce que tudo), ele irá passar a eternidade com Aquele que o amou e que em breve virá pessoalmente para levá-lo de volta ao Lar (1 Tessalonicenses 4.16,17).

É este, em resumo, o precioso Evangelho de Deus. Ele é a revelação do coração de Deus aos homens e vem de Deus para você com divina autoridade. Sua base é a obra completa de Cristo. Sua verdade foi testemunhada por incontáveis milhares durante quase dois mil anos. Ao invés de negarem a sua fé neste abençoado Evangelho e na Pessoa da qual ele fala, homens, mulheres, e até mesmo crianças foram, em tempos passados, corajosamente aprisionados, entregues à mortes cruéis e vergonhosas. Muitos, a quem este mundo ofereceu todas as vantagens, têm sacrificado seu conforto pessoal, e em muitos casos a própria vida, para levar estas boas novas às terras pagãs. O Evangelho tem trazido paz e descanso a miríades de corações antes vazios. Ele continua a ser hoje o fundamento sobre o qual milhares -- o autor entre eles -- estão apoiando seu tudo, para toda a eternidade.

O EVANGELHO DO HOMEM

Somos agora informados, no entanto, que, ainda que este Evangelho possa ter satisfeito a nossos antepassados, ele não se enquadra mais nos anseios e aspirações do homem moderno. Ele não se amolda à sua vaidade ao dizer que o homem é uma criatura caída e perdida. Ele estraga o seu prazer ao avisá-lo de que a morte e o juízo estão diante do homem. Ele tem, todavia, sido considerado necessário para produzir alguns 'novos evangelhos' que possam satisfazer ao desejo, inerente aos homens, da necessidade de reconhecer algo por detrás do que é meramente material e ainda deixá-lo livre para seguir sua própria vontade, sem qualquer sentimento desconfortável de que há de vir o dia de ajuste de contas.

Por volta do último século ou algo assim foi lançado o que nós propomos chamar de "EVANGELHO DO HOMEM". Ao elaborá-lo, foi feito um esforço para se manter certos termos e frases familiares aos ouvidos cristãos e, por conseguinte, adormecer qualquer suspeita nas mentes simples em que as crenças estavam sendo introduzidas, enfraquecendo ou minando, ao mesmo tempo, toda verdade primordial do cristianismo revelado. Tenta-se, ao menos da boca para fora, encontrar uma base sobre a qual os homens de todas as religiões, e até mesmo de nenhuma religião, possam se unir.

"SEREIS COMO DEUS"

Budismo, confucionismo, espiritualismo, teosofia, ciência e filosofia estão sendo convocados a erigir esse grande templo em honra do homem, e nós, que descendemos de ancestrais pagãos, ao invés de sermos chamados a adorar o Sol e a Lua (que, pelo menos são maiores do que o homem), somos agora chamados a nos prostrarmos diante do próprio homem. Este "Evangelho do Homem" tem sua origem no fundamento satânico lançado 6.000 anos atrás: "Sereis como Deus" (Gn 3.5). Este evangelho, na forma como o ouvimos hoje, ensina que o homem, longe de ser uma criatura caída, tem se levantado e continua a subir de uma condição de imperfeição para uma de perfeição. Consequentemente, o mal e a miséria do mundo não são atribuídos ao homem, mas sim ao meio que o cerca, do qual ele está emergindo. Pela melhoria desse meio é confiadamente esperado que o próprio homem seja melhorado.

Na verdade, o novo evangelho almeja por um dia em que a idade áurea da paz e felicidade universal será concretizada pelos esforços unificados da raça humana. A única base para este extraordinário panorama da raça humana e suas perspectivas é a ingênua, porém totalmente improvada, teoria científica conhecida como Evolução; uma teoria que (em qualquer proporção de sua forma atual), ninguém havia escutado até o século passado, e que, à semelhança de outras teorias científicas, pode vir a ser abandonada a qualquer momento, tão logo surjam fatos que provem o contrário.

O SER HUMANO COMO CENTRO DO UNIVERSO

No que concerne a Deus, o novo evangelho admite que possa haver um Criador, mas ensina que, de qualquer modo, nós somos por demais insignificantes para que nossos atos e ações sejam de alguma importância para Ele. Além disso, põe de lado qualquer ideia da responsabilidade para com Deus, do pecado ou do juízo vindouro. Como consequência, repudia a ideia de expiação. Na verdade, muitos dos expoentes do "Evangelho do Homem" duvidam que haja qualquer Deus que não seja o que eles chamam de "Mente" ou "Consciência Universal" ou coletiva; em outras palavras, não há nada mais elevado no Universo do que o próprio homem.

No que concerne a Cristo, o novo evangelho trata dEle meramente como um dos grandes profetas ou reformadores que apareceram nas diversas épocas da história do mundo, colocado ao mesmo plano com Confúcio e Maomé. Sua divindade, Seus milagres e Sua ressurreição são negados. O novo evangelho está pronto a aceitar a ética do cristianismo, mas não a Pessoa de Cristo. Este evangelho professa admiração pelo 'Sermão da Montanha', mas não tem espaço para Aquele que o pregou.

No que se refere à Bíblia, ele está pronto a admirar sua grandeza literária, mas nega a sua inspiração divina e até mesmo a sua exatidão histórica; todavia, quanto às partes que devem ser aceitas e as que devem ser rejeitadas, dificilmente dois dos novos evangelistas chegam a um acordo.

Quanto ao futuro, o "Evangelho do Homem" deixa a vida após a morte como um mistério insolúvel, embora alguns de seus expoentes esperem que o espiritualismo esclareça este grande problema.

O mais deslumbrante aspecto que o "Evangelho do Homem" pode oferecer à humanidade sofredora e moribunda é que, em alguma época de um futuro distante, alguma sorte de condições ideais possam ser estabelecidas nesta Terra. Não há um esquema satisfatório para realizar isto, tampouco é explicado como um mundo ideal poderia ser mantido. Acima de tudo, deixa sem resposta a grave questão de nosso destino eterno.

Agora, depois de tudo isso, querido leitor, você e eu podemos estar desejosos de fazer a nossa parte para ajudar a criar esta era dourada do futuro (supondo que estivéssemos certos de sua realidade), mas o fato que permanece é que não ficaremos aqui por mais do que alguns poucos anos. Acaso terá o "Evangelho do Homem" qualquer esperança a oferecer, ou qualquer segurança a proporcionar, na terrível hora da morte? Não, nenhuma! Ele deixa o ser humano lutando desesperadamente em busca da miragem desértica de uma ilusória era de ouro, enquanto aqueles em suas fileiras vão rapidamente perecendo em suas areias.

O CONTRASTE

Até aqui examinamos rapidamente o Evangelho de Deus e o Evangelho do Homem, e somos levados a ver O CONTRASTE!

De um lado temos o que Deus disse, o que Deus efetuou em Cristo, e o que Ele irá fazer para aquele que aceita a Cristo como Salvador. Do outro lado estão as promessas vazias e a vã imaginação do homem, deixando a consciência inquieta e o coração insatisfeito; oferecendo como sua melhor esperança, uma distante perspectiva de uma condição mais feliz em um mundo, o qual em pouco tempo todos nós teremos deixar para nos encontrarmos face a face com a infinita eternidade para a qual não estaremos preparados.

Leitor, qual satisfaz melhor o seu caso? Ambos os evangelhos não podem ser verdade. Um ou outro deve ser falso e ilusório. Se você é um cristão professo, nós sinceramente o advertimos que você cuide, com toda a certeza, de estar crendo no evangelho de Deus e no Cristo de Deus. Qualquer outro evangelho irá levá-lo ao fracasso, não importa quais sejam os nomes famosos que lhe deem crédito. A solene advertência do apóstolo Paulo, escrevendo sob divina inspiração, diz respeito a todo aquele que prega um evangelho que vá além do qual ele recebeu da glória e pregou com tanta diligência em seus dias (veja Gálatas 1.8,9). Se você é um obreiro cristão, essa maldição irá com toda certeza cair sobre você, se em nome de Cristo e de Deus, você estiver pregando ou ensinando aquilo que contradiz o caráter de Deus como um Deus Salvador e diminui a glória da Pessoa do Seu Filho ou da Sua obra consumada.

Se você é um dos inúmeros milhares que nesta época de amor aos prazeres não se preocupa com as coisas de Deus, nós gostaríamos de adverti-lo, com a maior seriedade, a considerar como estas importantes questões lhe afetam. Você não está aqui para sempre. Você é apenas um 'inquilino', e cada ruga em sua testa é um sinal de que a 'ordem de despejo' já está sendo entregue. A morte nos cerca de milhares de maneiras. Você não pode querer ignorar a solene questão do seu bem-estar eterno.

Concluindo, queremos chamar a atenção de todo leitor para aquilo que Deus disse a Seu povo na antiguidade: "Te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição: escolhe pois a vida" (Dt 30.19).

A. G. Doughty


"Porque haverá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas" (2 Tm 4.3,4).

A Oração e o Mundo Invisível - Paul Wilson



Vamos abrir a Bíblia no capítulo 9 do profeta Daniel, versículos 1-11 e 20-23. Leiam também o capítulo 10, inclusive o versículo 1 do capítulo 11. Desejo meditar um pouco nestas duas orações do profeta Daniel. Certamente não se trata de algo extraordinário encontrarmos Daniel orando, pois era característico daquele homem de Deus ser encontrado frequentemente em oração.

No capítulo 2, quando o rei teve um sonho e ninguém podia revelá-lo, Daniel orou e pediu a seus amigos para orarem com ele pelo mesmo propósito - para que o Deus do céu lhes concedesse conhecer esse segredo. Quando a resposta veio, ele não saiu correndo para contar ao rei, mas antes parou e agradeceu ao Senhor.

No capítulo 6, quando o rei foi persuadido a assinar um decreto (criado e elaborado pelos inimigos de Daniel), para que qualquer que fizesse qualquer petição a qualquer deus ou homem, exceto ao rei, pelo período de trinta dias, fosse lançado na cova dos leões, Daniel foi para sua casa e, pondo-se de joelhos, orava três vezes ao dia. Porém, note que há algo mais naquele capítulo. Ali diz, "como também antes costumava fazer" (Dn 6:10). Ele não se alterou com aquele decreto; ele não alterou o seu modo de vida; "três vezes no dia se punha de joelhos, e orava... como também antes costumava fazer". Ele era um homem de oração, e onde quer que você encontre um homem de Deus, você encontrará um homem de oração.

Então, no capítulo 9, Daniel começa a orar. Era o "ano primeiro de Dario, filho de Assuero" (Dn 9:1). O que o levou a orar nessa ocasião foi o fato de ele haver descoberto que os filhos de Israel iriam permanecer no cativeiro na Babilônia por setenta anos. Ele sabia que os setenta anos estavam para terminar. Ele cria naquilo que Deus dissera por meio de Seu profeta Jeremias, e esperava que o povo retornasse para a terra quando os anos se completassem. Sendo um homem de fé, um homem de oração e um homem do Livro (gosto de pensar nele não como um profeta, mas como um estudioso da profecia), ele põe-se a orar.

Quando os anos designados haviam chegado ao fim, Deus levantou a Ciro, um homem justo do oriente, cujo nome foi revelado cento e setenta e cinco anos antes de seu nascimento (Is 44:28-45:1), para a missão de enviar o povo de volta à sua terra. Deus não somente levantou a este homem, Ciro, mas levantou também a Daniel no tempo apropriado para confessar os pecados do povo como sendo seus. Em Isaías 59:16 lemos: "E viu que ninguém havia, e maravilhou-se de que não houvesse um intercessor". Penso que a única falha de um santo do Antigo Testamento que é registrada no Novo Testamento está em Romanos 11:2: "Elias... fala a Deus contra Israel". Era certamente algo contrário ao pensamento de Deus que alguém fizesse intercessão contra o Seu povo. Após Elias haver orado assim, foi-lhe dito que ungisse a Eliseu para ser o seu sucessor.

PECAMOS!

Este homem, Daniel, foi levantado para rogar pelo povo de Deus. Você verá algo semelhante em homens como Samuel, Davi, e muitos outros que rogaram a Deus por Seu povo. Qual era a condição daquele povo? Será que Daniel ignorava o fracasso do povo, que havia trazido sobre si os juízos governamentais de Deus? De modo algum. Ele buscava "com oração e rogos, com jejum, e saco e cinza" (Dn 9:3). Para Daniel não se tratava de um exercício superficial; não era apenas uma identificação fingida com o povo de Deus. Ele sentia seu fracasso como sendo de si próprio, e isso o levou à humilhação, em saco e cinzas, em oração e súplica (oração contínua). Ele dizia: "Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas o concerto e a misericórdia para com os que Te amam e guardam os Teus mandamentos". E note as palavras do versículo seguinte: "Pecamos (e não "eles pecaram"), e cometemos iniquidade, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos Teus mandamentos e dos Teus juízos" (Dn 9:4-5). Ele identifica-se plenamente com todo o povo.

Se havia alguém entre os cativos na Babilônia que pudesse ser achado livre de culpa, esse alguém era Daniel, um homem que fora levado para lá, mas não por alguma falta que tivesse cometido; ele fora levado cativo e vivera ali para Deus. Gosto de pensar nele como alguém que levou uma vida de devoção desde a sua juventude até à velhice; ele era um homem fiel. Ele propôs em seu coração que não se contaminaria. Não se tratava de algo exterior - era seu propósito de coração (Dn 1:8). Ele desejava agradar a Deus. Sendo um judeu fiel, ele viu em Babilônia coisas que o contaminariam, e manteve-se afastado delas para a glória de Deus. Ele tinha base nas Escrituras para fazer o que fez. Possamos nós, queridos jovens, ter um propósito de coração em buscar de Deus graça para mantermos longe de nós tudo aquilo que poderia nos contaminar.

Agora Daniel é um homem idoso; ele viveu em fidelidade, e agora identifica-se com os pecados do povo, e ora. Há outra coisa acerca de sua oração em Daniel 9:7: "A Ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto". Precisamos ter sempre em mente que Deus é justo; Ele nunca comete qualquer erro. Daniel toma toda a culpa para si próprio e para seu povo. Note, mais uma vez, no versículo 8: "Ó Senhor, a nós pertence a confusão de rosto, aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais, porque pecamos contra Ti".

UMA ÉPOCA DE RUÍNA

Lembremo-nos, queridos cristãos, de que estamos vivendo em uma época de ruína - nos últimos dias da história da igreja de Deus sobre a Terra. Não estamos nos dias que tiveram início tão brilhantemente naquele dia de Pentecostes, mas estamos nos dias de 2 Timóteo, quando a casa de Deus é descrita como uma "grande casa", na qual há não somente vasos para honra, mas também vasos para desonra. O que devemos fazer? Não podemos simplesmente sair da "grande casa"; a "grande casa" é a esfera de profissão do cristianismo sobre a Terra. Você não pode sair dela a menos que desista do cristianismo. Há ruína e fracasso de todos os lados.

Deixe-me falar algumas poucas palavras àqueles que aqui estão, que reúnem-se somente ao nome do Senhor Jesus Cristo. Tomemos cuidado para não comermos, por assim dizer, a oferta pelo pecado. Tomemos cuidado para não termos a pretensão de nos considerarmos como não havendo falhado. Eu tremo ao notar qualquer tendência de nos exaltarmos e dizermos que temos guardado a verdade, ou que a verdade seja guardada por nós. Irmãos, proceder assim é não ter aprendido bem a lição. Somos uma parte da ruína, e precisamos estar no espírito de Daniel como é encontrado nas Escrituras. Estou persuadido de que se nos exaltarmos como se fôssemos alguma coisa, Deus nos mostrará que nada somos. Ele irá definitivamente extinguir o orgulho. "Estas seis coisas aborrece o Senhor, e a sétima a Sua alma abomina." A primeira coisa que é mencionada são os "olhos altivos" (Pv 6:16-17). Tomemos cuidado para não nos exaltarmos como sendo alguma coisa, ou nos declararmos superiores a alguém. Deixe-me dar uma palavra de alerta: Existe um caminho para a fé, um caminho de obediência; e se andarmos neste caminho, poderemos ficar conscientes do fato de que fazemos parte da ruína que se introduziu. Existe uma maneira de se guardar a verdade de um testemunho remanescente nestes últimos dias, mas necessitamos de cabeças baixas, conscientes de que fazemos parte do fracasso da cristandade.

A RESPOSTA

Daniel orou, e quando chegamos ao versículo 20 do capítulo 9 encontramos a resposta à sua oração. Quão rápido a resposta chegou! "Estando eu ainda falando e orando, e confessando o meu pecado, e o pecado do meu povo Israel, e lançando a minha súplica perante a face do Senhor, meu Deus, pelo monte santo do meu Deus, estando eu, digo, ainda falando na oração, o varão Gabriel, que eu tinha visto na minha visão ao princípio, veio voando rapidamente, e tocou-me à hora do sacrifício da tarde" (Dn 9:20-21). Ele estava em um estado de espírito adequado, e a resposta veio rapidamente. A profecia das setenta semanas de Daniel foi-lhe dada como uma resposta ao seu estado de espírito.

Note também que ele foi tocado "à hora do sacrifício da tarde". Era a hora da oferta do cordeiro da tarde (eles tinham que oferecer um cordeiro à tarde e outro de manhã; o fogo do altar não era para apagar-se jamais - a noite toda até à manhã). Naquele tempo já não existia um sacrifício da tarde; tudo havia cessado por causa de seus pecados. Daniel estava longe de sua terra, estava na Babilônia, mas guardava essas coisas em seu coração, e estava consciente de ser aquela a hora do sacrifício da tarde. E assim, nesse espírito, ele recebe a resposta.

ORAÇÃO E JEJUM

Vamos passar para o capítulo 10. Outro rei sobe ao trono - Ciro, o qual foi levantado por Deus. Daniel havia aprendido que seu povo deveria voltar a Jerusalém de acordo com a profecia de Jeremias. A profecia dada a Daniel fora postergada para um tempo distante. Não encontramos Daniel voltando a Jerusalém junto com aqueles que voltaram no primeiro capítulo de Esdras. E, no entanto, seu estado de espírito não havia sofrido mudança; ele tivera uma revelação do futuro para um tempo ainda distante, e Deus revelara a ele a glória de Israel conforme é relacionada ao Messias - a época gloriosa quando o Messias haveria de vir. "Naqueles dias eu, Daniel, estive triste por três semanas completas. Manjar desejável não comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com ungüento, até que se cumpriram as três semanas" (Dn 10:2-3).

Querido cristão, o que é que sabemos acerca da verdadeira oração e intercessão diante de Deus? Às vezes é levantada a questão sobre "jejuar". No capítulo anterior o jejum é mencionado. E aqui no versículo 3, ele estava num espírito de jejum e de lamento. A pergunta que comumente se faz é, "Existe o jejum em nossos dias?". Acaso não havemos de reconhecer que se estivéssemos mais fervorosamente diante de Deus, poderíamos conhecer mais da renúncia-própria? Nestes dias de prosperidade, luxúria, etc., quanto sabemos acerca da renúncia-própria? É por esta razão que tão raramente escutamos notícias de orações respondidas. Tiago nos diz: "Nada tendes, porque não pedis"; e ainda, "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites" (Tg 4:2-3). Porém existe tal coisa, que é o estar diante de Deus em um espírito de jejum - andando em humilhação e juízo-próprio, reconhecendo a própria ruína, e negando-se a si mesmo.

Daniel esperou por três semanas inteiras. Muitos dos queridos santos de Deus pediram por algo que nunca chegaram a ver no período de suas vidas. Deus não prometeu que responderia às nossas orações durante o tempo de nossa vida. Neste caso aqui a resposta veio no tempo apropriado de Deus. Não podemos apressar a Deus.

A VISÃO

Neste décimo capítulo, Daniel estava às margens do grande rio, o qual é Hidequel (Tigre). Faz-me lembrar muito da época em que Saulo de Tarso estava de jornada a Damasco; os homens que estavam com ele escutaram a voz, porém Saulo a compreendeu. Aqui, em Daniel, um grande temor caiu sobre os homens que estavam com ele, e fugiram para se esconder; mas Daniel viu esta grande visão. É preciso um estado de espírito e de comunhão com o pensamento de Deus. Existe algo como estar em comunhão com a mente de Deus; se andarmos com Ele, conheceremos mais acerca disto. Mas não estou querendo dizer que iremos ter revelações especiais em nossos dias como teve Daniel.

O que Daniel viu, na visão, poderia nos fazer lembrar do que João viu no primeiro capítulo de Apocalipse. Ele viu o Senhor Jesus como Filho do Homem em trajes judiciais, e caiu aos Seus pés como morto. Algo similar aconteceu a Daniel aqui (v. 8): “Fiquei, pois, eu só, e vi esta grande visão, e não ficou força em mim: e transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio, e não retive força alguma". A glória da Pessoa que falou a ele o prostrou. A maneira de termos uma clara ideia do que somos é entrando na presença de Deus.

Versículo 10: "E eis que uma mão me tocou, e fez que me movesse sobre os meus joelhos e sobre as palmas das minhas mãos. E me disse: Daniel, homem mui desejado". Daniel, um velho agora, é chamado de "homem muito amado" (Versão Almeida Atualizada). Querido cristão, leia o livro de Daniel; leia como ele começou com um propósito de coração em agradar ao Senhor, e como ele seguiu naquele caminho; então, veja como ao final de sua jornada ele recebe este lindo testemunho - ele é chamado de "homem muito amado". Ele não recebeu aquele título vivendo uma vida descuidada, fazendo como faziam os babilônios; ele o recebeu como resultado de um andar de fé - vivendo em separação para Deus.

UM TÍTULO DE GRADUAÇÃO

Lembro-me de ter conversado, certa vez, com um grupo de jovens rapazes cristãos, todos almejando um título de graduação (como "Ph.D.", que significa "Philosophiae Doctor", etc.) em faculdades e universidades. Lembro-me de tê-los escutado acerca dos diplomas e títulos que queriam conseguir. Vocês sabem, Daniel recebeu um bom título de graduação. Deus ama a todos os Seus filhos. Existe uma maneira em que Ele ama a cada um igualmente; mas existe também um amor de benevolência - um amor de prazer - para com um filho obediente, e é isto o que encontramos aqui: "Daniel, homem muito amado". Será que você gostaria de receber um título de graduação como este - "H.M.A." ("Homem Muito Amado")? Um título assim é recebido por andar no caminho de fé em separação deste mundo. Como almejamos ver jovens cristãos seguindo a Cristo e tomando uma posição por Cristo. Isto também serve para nós, mais velhos, que já temos um pouco mais de tempo de jornada. O caminho feliz é vivermos vidas devotadas a Cristo. É bom começar a vida cristã bem, com um propósito de coração, não em nossa própria força, mas buscando a ajuda do Senhor para vivermos para Ele. Não é bom apenas começar bem, mas também terminar bem. Alguns começam bem, mas desviam-se do caminho - desviam-se quando ficam velhos. Querido cristão, se Deus nos deixar aqui, que sejamos guardados de nos desviarmos, desde a nossa juventude até à nossa velhice, seguindo adiante no caminho de dependência e devoção, para podermos escutar no final da jornada, "homem muito amado". É um título que deveríamos muito ambicionar - uma "formatura" que seria para a glória dAquele que morreu por nós, e também algo de que poderíamos desfrutar.

O TEMPO DE DEUS

Passemos agora ao versículo 12: "Então me disse: Não temas, Daniel". O Senhor Jesus falou estas palavras, "Não temas", a alguns dos que eram Seus quando esteve aqui. O Senhor nos deseja ter em Sua presença com o sentimento de que Ele é Deus, mas Ele quer que fiquemos à vontade em Sua presença. "Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia, em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras." Este versículo é a chave para o fato, ou a razão pela qual ele esteve esperando por três semanas inteiras. Todas as suas palavras haviam sido ouvidas desde o princípio, desde o primeiro dia.

O versículo 13 acrescenta: "Mas o príncipe do reino da Pérsia se pôs defronte de mim vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia". Por quê Deus permitiu que o mensageiro que foi enviado com a resposta para Daniel fosse atrasado por três semanas inteiras? Ele permitiu a demora, o atraso, para exercício da alma de Daniel. Às vezes aguardamos no Senhor dia após dia, mês após mês, e talvez até ano após ano, e não há sinal aparente de que nosso fardo esteja sendo removido. O apóstolo Paulo foi arrebatado ao terceiro céu e viu coisas impossíveis de serem colocadas em linguagem humana, e quando voltou foi-lhe dado um espinho na carne para mantê-lo humilde. Ele rogou três vezes ao Senhor que o tirasse. A resposta que recebeu não foi a que estava buscando, mas o satisfez. A resposta foi: "A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza". E então Paulo disse: "De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo" (2 Co 12:9).

ATRÁS DOS BASTIDORES: UM MUNDO INVISÍVEL

Esse atraso nos leva para atrás dos bastidores. Este décimo capítulo de Daniel é um dos poucos lugares nas Escrituras que introduz você no mundo invisível. Há coisas que são invisíveis aos nossos olhos naturais e que não são escutadas por nossos ouvidos. Até mesmo nas coisas naturais há apenas uma pequena porcentagem do espectro que podemos escutar com nossos ouvidos. O beija-flor tem um canto maravilhoso, porém nossos ouvidos não são adequados para escutá-lo.

Há algo mais: Existe um mundo invisível, e há poderes no mundo invisível. Lemos neste capítulo acerca de Gabriel e Miguel. Estes são os dois únicos anjos cujos nomes são registrados, porém lemos de anjos invisíveis que excedem o homem em força; são mensageiros de Deus, cumprindo a Sua vontade. Eles exercem um domínio providencial neste mundo; são "todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação" (Hb 1:14). Fico satisfeito em saber que quando chegarmos na glória descobriremos que por muitas vezes fomos cuidados pela ministração de anjos. Esse é o mundo no qual Deus opera, invisível ao olho humano. A Palavra de Deus fala do querubim e do serafim; são dois tipos de anjos. Miguel é apresentado como o arcanjo; quantos outros seres celestiais existem não podemos dizer, e nem o sabemos. Um desses mensageiros, que estava destinado a cumprir a ordem de Deus foi enviado com a resposta à oração de Daniel. Foi enviado para levar esta maravilhosa profecia, e é uma profecia das mais maravilhosas - incrédulos que têm estudado a história secular afirmam que nenhum homem poderia tê-la escrito, e que ela deve ter sido escrita depois de haver acontecido. Mas Daniel era profeta e não historiador; ele recebeu a profecia e ela está repleta de detalhes minuciosos.

AS HOSTES ESPIRITUAIS DA MALDADE

Há algo mais neste capítulo. Além dos anjos que cumprem as ordens de Deus, existe uma força no mundo invisível que é encabeçada por Satanás. Ele tem seus anjos - seus ministros - que cumprem suas ordens. Talvez ele tenha organizado seu sistema imitando as fileiras do governo de Deus. O Senhor Jesus disse: "E se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá pois o seu reino?" (Mt 12:26). Ele tem um sistema organizado, e estamos lendo de alguém que resistiu ao mensageiro que trazia a mensagem a Daniel - "o príncipe do reino da Pérsia". "E eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia" (Dn 10:13). Ele estava em combate com um dos mensageiros de Satanás. Pouco sabia Ciro que estava acontecendo uma batalha no mundo invisível, e que esta tinha a ver com o seu reino. Satanás, se pudesse, buscava frustrar os planos de Deus. Ele sempre se opõe àquilo que é conforme a mente de Deus. Um dos principais mensageiros das hostes celestiais de Deus veio ajudar Daniel.

Encontramos Miguel mencionado aqui, em Judas e no capítulo 12 de Apocalipse. Em cada lugar vemos que ele está em conflito com Satanás ou seus emissários. Em Judas 9 lemos: "Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda". Isto nos ensina algo que não nos seria possível aprender do Antigo Testamento. Moisés estava no monte e ali morreu; e ali ensina que foi Deus Quem o sepultou. Creio que ensina ter sido ele sepultado por Deus, que usou Miguel, o arcanjo, como instrumento, ao qual o diabo resistiu. O diabo, sem dúvida alguma, teria influenciado os filhos de Israel a fazerem do sepulcro de Moisés um santuário ou lugar de peregrinação. Miguel resistiu ao diabo.

Se você deseja conhecer algo acerca da glória de Satanás, você poderá encontrar no capítulo 28 de Ezequiel, onde ele é tipificado no Rei de Tiro; e não em Isaías 14 sob o nome de Lúcifer. Lúcifer é uma representação, não de Satanás, mas do último rei do Império Romano revivido. Satanás é um ser glorioso, e Miguel não pronuncia contra ele juízo de maldição. Não fazemos idéia das forças postas em ordem de batalha contra nós, mas podemos descansar sabendo que "mais são os que estão conosco do que os que estão com eles" (2 Rs 6:16). Temos Alguém do nosso lado, que é superior a todas as hostes de Satanás, mas não nos esqueçamos da seriedade da confederação que se opõe ao nosso progresso. O Senhor disse ao diabo: "Vai-te, Satanás" (Lc 4:8). Não creio que seja apropriado para o filho Deus dizer isto; a nós é dito para resistirmos ao diabo. E como devemos resistir a ele? Com a Palavra de Deus, assim como o Senhor resistiu a ele no deserto. Ele resistiu ao diabo e o derrotou com estas duas palavras: "Está escrito". Ele usou a Palavra de Deus, não para silenciar Satanás, mas como um guia para Sua própria conduta; e se a usarmos como o guia para nossa conduta, Satanás fugirá de nós.

O CONFLITO

Abram no capítulo 12 de Apocalipse: "E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do Sol" (esta mulher é Israel), "tendo a Lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz. E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas. E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a Terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho. E deu à luz um filho, um Varão que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o Seu trono" (vs.1-5).

Isto deve deixar claro que este é o Senhor Jesus Cristo, o mesmo do Salmo 2. Note bem, temos Seu nascimento e ascensão mostrados aqui, mas não Sua morte e ressurreição - elas não são mencionadas aqui. "E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias. E houve batalha no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhava o dragão e os seus anjos" (Ap 12:6-7). Aí encontramos outra vez Miguel em conflito com os poderes das trevas. Encontramos também que, no tempo do fim, Miguel se levantará e entrará outra vez em um conflito. Alguns cristãos ficariam boquiabertos se lhes disséssemos que Satanás e seus anjos caídos encontram-se no céu (não na presença de Deus), e que ele é chamado de "príncipe das potestades do ar" (Ef 2:2). E há ainda os "príncipes das trevas deste século", e as "hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Ef 6:12). O tempo se aproxima quando eles serão expulsos e lançados na Terra.

Gostaria de chamar a sua atenção para algo, no capítulo 12 de Apocalipse, em conexão com o nascimento do Senhor Jesus Cristo. Temos ali um vislumbre da razão por quê Herodes procurou matar o Senhor Jesus quando este nasceu. Herodes inquiriu dos magos acerca do tempo em que a estrela aparecera, e então deu ordem para matar todas as crianças de dois anos para baixo, procurando destruir o Senhor Jesus. Aquilo parecia obra do iníquo Herodes, mas quando lemos o capítulo 12 de Apocalipse, encontramos o sinistro poder que se movia por trás de Herodes. Isso nos mostra algo do que acontecia atrás dos bastidores. Vemos que o dragão, Satanás, parou diante da mulher pronto para devorar seu filho, tão logo este nascesse. Todo este capítulo nos leva para atrás dos cenários e nos mostra um pouco da luta que acontecia ali. E a luta segue também agora! Herodes foi o instrumento usado por Satanás, e os espíritos maus em sua organização estão agora trabalhando nos tronos dos governos. Quando os principais líderes governamentais reuniram-se recentemente para uma conferência em Genebra, fiquei a pensar em quantos espíritos maus de Satanás estariam ali. Essas coisas não são imaginárias, ou contos de ficção; porém Deus levanta as cortinas aqui e ali e nos deixa ver aquilo que é invisível.

NA PENEIRA DE SATANÁS

No livro de Jó vemos que as tribulações que vieram sobre Jó, que pareciam ser as mesmas que vieram aos seus vizinhos, eram, na verdade, a movimentação dos iníquos espíritos invisíveis. Satanás não conhece nada acerca de amor, ou do poder do amor. Satanás podia levantar o vendaval e influir nos raios; ele podia levantar ladrões e salteadores, e tudo foi permitido por Deus. Mas aprendemos uma coisa claramente, e isto é que nada pode acontecer a um filho de Deus sem a Sua permissão.

O Senhor Jesus disse a Pedro: "Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo". Ele não disse: 'Eu vou impedir que Satanás coloque você em sua peneira', mas o que disse foi: "Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça" (Lc 22:31-32). O Senhor sabia que era para o bem de Pedro; portanto Pedro caiu na peneira de Satanás e este lhe deu uma boa sacudida. Satanás estava fazendo o trabalho do Senhor para mostrar ao próprio Pedro como este realmente era. Irmãos, é muito melhor aprendermos nossas lições na escola de Deus em comunhão, do que aprendê-las na peneira de Satanás. Às vezes, para o nosso bem, Deus permite que entremos na peneira de Satanás a fim de perdermos nossa auto-confiança, e aprendermos que somos pequeninos e fracos como os grãos de trigo que volteiam na peneira.

Daniel 10:20: "E disse: Sabes porque eu vim a ti? Eu tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas; e, saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia". O poder da Grécia era o próximo a se levantar, e a se interessar pelo povo terrenal de Deus, os judeus. E Satanás tinha seus instrumentos para trabalharem no trono do governo do reino da Grécia.

Capítulo 11, versículo 1: "Eu, pois, no primeiro ano de Dario, medo, levantei-me para o animar e fortalecer". Voltemos a Daniel 6: Dario organizou seu governo e estabeleceu cento e vinte príncipes; colocou três sobre eles e fez de Daniel o chefe. Ali estava um dos filhos de Israel, um do povo terrenal de Deus, vivendo no trono do governo dos Medos e Persas. Vemos no capítulo 11 que o anjo Miguel, que levantou-se para fortalecer Daniel, também levantou-se para fortalecer Dario. Encontramos Dario indo a Daniel e dizendo: "O teu Deus, a quem tu continuamente serves, Ele te livrará" (Dn 6:16). E então, quando Dario se levantou na manhã seguinte, clamou com voz triste: "Daniel, servo do Deus vivo! Dar-se-ia o caso que o teu Deus, a Quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões?" (Dn 6:20) - Sua fé havia diminuído naquela noite. Quando ele descobre que Daniel está vivo e ileso, dá ordens e Daniel é tirado da cova. Eles não haviam transgredido sua lei ao tirá-lo da cova. Eu associo este capítulo 6 - o testemunho da fé de Dario e o interesse que demonstrou pelo bem estar de Daniel - com o anjo que levantou-se para fortalecer Daniel no capítulo 11, versículo 1.

Veja o livro de Ester: Quando Hamã tornou-se cabeça do governo, ele redigiu e assinou o edito para que todos os judeus fossem destruídos. Era Satanás trabalhando por trás dos cenários contra o povo terrenal de Deus. Se o plano de Hamã tivesse dado certo, isto significaria a ruína de toda a raça humana. Por trás de tudo estava a luta, não apenas dos emissários de Satanás, mas do anjo de Deus. Estamos sempre aptos a nos acomodar achando que as coisas são como as enxergamos; mas existem os poderes do mundo invisível.

PARA SERMOS PRUDENTES

Amigos, estas coisas são uma realidade! Não é para ficarmos desencorajados, mas tudo isso deveria nos fazer mais prudentes enquanto passamos por este mundo. Que possamos aprender algo do andar naquele espírito que caracterizou Daniel - reconhecendo nossa parte no triste fracasso, intercedendo pelo povo de Deus e buscando graça para seguir adiante em obediência à Sua Palavra. A obediência à Palavra de Deus, que nos leva a um caminho de separação, é uma coisa. Mas, se somos levados a levantar nossas cabeças buscando ser algo mais, então isto já é outro assunto. Afastemos o orgulho para longe de nós. Devemos nós ficar desencorajados por causa dos poderes das trevas? Poderão eles nos tocar? Pode ser que o Senhor permita a Satanás tocar em nossos bens, e até em nossa carne, para o nosso próprio benefício. Ele pode permitir, assim como fez a Pedro, que nós caiamos na peneira de Satanás a fim de levarmos uma rude chacoalhada com o objetivo de ficarmos livres do orgulho e da auto-confiança. Mas será que Satanás poderá verdadeiramente nos tocar?

"Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 8:38). Entendo que "principados" e "potestades" referem-se aos poderes invisíveis que estão em ordem de batalha contra nós. Porém, nada, não importa quão grande seja - inclusive Satanás - poderá jamais tocar a vida e segurança de um santo de Deus. E Deus não vai deixar que Satanás ou seus emissários ponham a mão em você sem a Sua permissão. Ele pode até permitir, mas será sempre para o seu bem. Lembre-se de que pode acontecer com você o mesmo que pode acontecer com seu vizinho incrédulo; mas, como podemos ver no livro de Jó, com um filho de Deus será de um caráter diferente daquilo que acontece com o vizinho incrédulo.

Busquemos graça para termos propósito de coração e devoção, se ainda formos deixados aqui, para sermos guardados no caminho da fé até o momento em que ouviremos o chamado. Não falta muito!


Paul Wilson: Palestra a jovens cristãos em Oak Park, Illinois, Estados Unidos - Agosto/1955.