Vamos abrir a Bíblia no
capítulo 9 do profeta Daniel, versículos 1-11 e 20-23. Leiam também o capítulo
10, inclusive o versículo 1 do capítulo 11. Desejo meditar um pouco nestas duas
orações do profeta Daniel. Certamente não se trata de algo extraordinário
encontrarmos Daniel orando, pois era característico daquele homem de Deus ser
encontrado frequentemente em oração.
No capítulo 2, quando o rei
teve um sonho e ninguém podia revelá-lo, Daniel orou e pediu a seus amigos para
orarem com ele pelo mesmo propósito - para que o Deus do céu lhes concedesse
conhecer esse segredo. Quando a resposta veio, ele não saiu correndo para
contar ao rei, mas antes parou e agradeceu ao Senhor.
No capítulo 6, quando o rei
foi persuadido a assinar um decreto (criado e elaborado pelos inimigos de
Daniel), para que qualquer que fizesse qualquer petição a qualquer deus ou
homem, exceto ao rei, pelo período de trinta dias, fosse lançado na cova dos
leões, Daniel foi para sua casa e, pondo-se de joelhos, orava três vezes ao
dia. Porém, note que há algo mais naquele capítulo. Ali diz, "como também
antes costumava fazer" (Dn 6:10). Ele não se alterou com aquele decreto;
ele não alterou o seu modo de vida; "três vezes no dia se punha de joelhos,
e orava... como também antes costumava fazer". Ele era um homem de oração,
e onde quer que você encontre um homem de Deus, você encontrará um homem de
oração.
Então, no capítulo 9, Daniel
começa a orar. Era o "ano primeiro de Dario, filho de Assuero" (Dn
9:1). O que o levou a orar nessa ocasião foi o fato de ele haver descoberto que
os filhos de Israel iriam permanecer no cativeiro na Babilônia por setenta
anos. Ele sabia que os setenta anos estavam para terminar. Ele cria naquilo que
Deus dissera por meio de Seu profeta Jeremias, e esperava que o povo retornasse
para a terra quando os anos se completassem. Sendo um homem de fé, um homem de
oração e um homem do Livro (gosto de pensar nele não como um profeta, mas como
um estudioso da profecia), ele põe-se a orar.
Quando os anos designados
haviam chegado ao fim, Deus levantou a Ciro, um homem justo do oriente, cujo
nome foi revelado cento e setenta e cinco anos antes de seu nascimento (Is
44:28-45:1), para a missão de enviar o povo de volta à sua terra. Deus não somente
levantou a este homem, Ciro, mas levantou também a Daniel no tempo apropriado
para confessar os pecados do povo como sendo seus. Em Isaías 59:16 lemos:
"E viu que ninguém havia, e maravilhou-se de que não houvesse um
intercessor". Penso que a única falha de um santo do Antigo Testamento que
é registrada no Novo Testamento está em Romanos 11:2: "Elias... fala a
Deus contra Israel". Era certamente algo contrário ao pensamento de Deus
que alguém fizesse intercessão contra o Seu povo. Após Elias haver orado assim,
foi-lhe dito que ungisse a Eliseu para ser o seu sucessor.
PECAMOS!
Este homem, Daniel, foi
levantado para rogar pelo povo de Deus. Você verá algo semelhante em homens
como Samuel, Davi, e muitos outros que rogaram a Deus por Seu povo. Qual era a
condição daquele povo? Será que Daniel ignorava o fracasso do povo, que havia
trazido sobre si os juízos governamentais de Deus? De modo algum. Ele buscava
"com oração e rogos, com jejum, e saco e cinza" (Dn 9:3). Para Daniel
não se tratava de um exercício superficial; não era apenas uma identificação
fingida com o povo de Deus. Ele sentia seu fracasso como sendo de si próprio, e
isso o levou à humilhação, em saco e cinzas, em oração e súplica (oração
contínua). Ele dizia: "Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas o
concerto e a misericórdia para com os que Te amam e guardam os Teus
mandamentos". E note as palavras do versículo seguinte: "Pecamos (e
não "eles pecaram"), e cometemos iniquidade, e procedemos impiamente,
e fomos rebeldes, apartando-nos dos Teus mandamentos e dos Teus juízos"
(Dn 9:4-5). Ele identifica-se plenamente com todo o povo.
Se havia alguém entre os
cativos na Babilônia que pudesse ser achado livre de culpa, esse alguém era
Daniel, um homem que fora levado para lá, mas não por alguma falta que tivesse
cometido; ele fora levado cativo e vivera ali para Deus. Gosto de pensar nele
como alguém que levou uma vida de devoção desde a sua juventude até à velhice;
ele era um homem fiel. Ele propôs em seu coração que não se contaminaria. Não
se tratava de algo exterior - era seu propósito de coração (Dn 1:8). Ele
desejava agradar a Deus. Sendo um judeu fiel, ele viu em Babilônia coisas que o
contaminariam, e manteve-se afastado delas para a glória de Deus. Ele tinha
base nas Escrituras para fazer o que fez. Possamos nós, queridos jovens, ter um
propósito de coração em buscar de Deus graça para mantermos longe de nós tudo
aquilo que poderia nos contaminar.
Agora Daniel é um homem idoso;
ele viveu em fidelidade, e agora identifica-se com os pecados do povo, e ora.
Há outra coisa acerca de sua oração em Daniel 9:7: "A Ti, ó Senhor,
pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto". Precisamos ter sempre
em mente que Deus é justo; Ele nunca comete qualquer erro. Daniel toma toda a culpa
para si próprio e para seu povo. Note, mais uma vez, no versículo 8: "Ó
Senhor, a nós pertence a confusão de rosto, aos nossos reis, aos nossos
príncipes, e a nossos pais, porque pecamos contra Ti".
UMA
ÉPOCA DE RUÍNA
Lembremo-nos, queridos
cristãos, de que estamos vivendo em uma época de ruína - nos últimos dias da
história da igreja de Deus sobre a Terra. Não estamos nos dias que tiveram
início tão brilhantemente naquele dia de Pentecostes, mas estamos nos dias de 2
Timóteo, quando a casa de Deus é descrita como uma "grande casa", na
qual há não somente vasos para honra, mas também vasos para desonra. O que
devemos fazer? Não podemos simplesmente sair da "grande casa"; a
"grande casa" é a esfera de profissão do cristianismo sobre a Terra.
Você não pode sair dela a menos que desista do cristianismo. Há ruína e
fracasso de todos os lados.
Deixe-me falar algumas poucas
palavras àqueles que aqui estão, que reúnem-se somente ao nome do Senhor Jesus
Cristo. Tomemos cuidado para não comermos, por assim dizer, a oferta pelo
pecado. Tomemos cuidado para não termos a pretensão de nos considerarmos como
não havendo falhado. Eu tremo ao notar qualquer tendência de nos exaltarmos e
dizermos que temos guardado a verdade, ou que a verdade seja guardada por nós.
Irmãos, proceder assim é não ter aprendido bem a lição. Somos uma parte da
ruína, e precisamos estar no espírito de Daniel como é encontrado nas
Escrituras. Estou persuadido de que se nos exaltarmos como se fôssemos alguma
coisa, Deus nos mostrará que nada somos. Ele irá definitivamente extinguir o
orgulho. "Estas seis coisas aborrece o Senhor, e a sétima a Sua alma
abomina." A primeira coisa que é mencionada são os "olhos
altivos" (Pv 6:16-17). Tomemos cuidado para não nos exaltarmos como sendo
alguma coisa, ou nos declararmos superiores a alguém. Deixe-me dar uma palavra
de alerta: Existe um caminho para a fé, um caminho de obediência; e se andarmos
neste caminho, poderemos ficar conscientes do fato de que fazemos parte da
ruína que se introduziu. Existe uma maneira de se guardar a verdade de um
testemunho remanescente nestes últimos dias, mas necessitamos de cabeças
baixas, conscientes de que fazemos parte do fracasso da cristandade.
A RESPOSTA
Daniel orou, e quando chegamos
ao versículo 20 do capítulo 9 encontramos a resposta à sua oração. Quão rápido
a resposta chegou! "Estando eu ainda falando e orando, e confessando o meu
pecado, e o pecado do meu povo Israel, e lançando a minha súplica perante a
face do Senhor, meu Deus, pelo monte santo do meu Deus, estando eu, digo, ainda
falando na oração, o varão Gabriel, que eu tinha visto na minha visão ao
princípio, veio voando rapidamente, e tocou-me à hora do sacrifício da
tarde" (Dn 9:20-21). Ele estava em um estado de espírito adequado, e a
resposta veio rapidamente. A profecia das setenta semanas de Daniel foi-lhe
dada como uma resposta ao seu estado de espírito.
Note também que ele foi tocado
"à hora do sacrifício da tarde". Era a hora da oferta do cordeiro da
tarde (eles tinham que oferecer um cordeiro à tarde e outro de manhã; o fogo do
altar não era para apagar-se jamais - a noite toda até à manhã). Naquele tempo
já não existia um sacrifício da tarde; tudo havia cessado por causa de seus
pecados. Daniel estava longe de sua terra, estava na Babilônia, mas guardava essas
coisas em seu coração, e estava consciente de ser aquela a hora do sacrifício
da tarde. E assim, nesse espírito, ele recebe a resposta.
ORAÇÃO E JEJUM
Vamos passar para o capítulo
10. Outro rei sobe ao trono - Ciro, o qual foi levantado por Deus. Daniel havia
aprendido que seu povo deveria voltar a Jerusalém de acordo com a profecia de
Jeremias. A profecia dada a Daniel fora postergada para um tempo distante. Não
encontramos Daniel voltando a Jerusalém junto com aqueles que voltaram no
primeiro capítulo de Esdras. E, no entanto, seu estado de espírito não havia
sofrido mudança; ele tivera uma revelação do futuro para um tempo ainda
distante, e Deus revelara a ele a glória de Israel conforme é relacionada ao
Messias - a época gloriosa quando o Messias haveria de vir. "Naqueles dias
eu, Daniel, estive triste por três semanas completas. Manjar desejável não
comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com ungüento, até
que se cumpriram as três semanas" (Dn 10:2-3).
Querido cristão, o que é que
sabemos acerca da verdadeira oração e intercessão diante de Deus? Às vezes é
levantada a questão sobre "jejuar". No capítulo anterior o jejum é
mencionado. E aqui no versículo 3, ele estava num espírito de jejum e de
lamento. A pergunta que comumente se faz é, "Existe o jejum em nossos
dias?". Acaso não havemos de reconhecer que se estivéssemos mais
fervorosamente diante de Deus, poderíamos conhecer mais da renúncia-própria?
Nestes dias de prosperidade, luxúria, etc., quanto sabemos acerca da renúncia-própria?
É por esta razão que tão raramente escutamos notícias de orações respondidas.
Tiago nos diz: "Nada tendes, porque não pedis"; e ainda, "Pedis,
e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites" (Tg
4:2-3). Porém existe tal coisa, que é o estar diante de Deus em um espírito de
jejum - andando em humilhação e juízo-próprio, reconhecendo a própria ruína, e
negando-se a si mesmo.
Daniel esperou por três
semanas inteiras. Muitos dos queridos santos de Deus pediram por algo que nunca
chegaram a ver no período de suas vidas. Deus não prometeu que responderia às
nossas orações durante o tempo de nossa vida. Neste caso aqui a resposta veio
no tempo apropriado de Deus. Não podemos apressar a Deus.
A VISÃO
Neste décimo capítulo, Daniel
estava às margens do grande rio, o qual é Hidequel (Tigre). Faz-me lembrar
muito da época em que Saulo de Tarso estava de jornada a Damasco; os homens que
estavam com ele escutaram a voz, porém Saulo a compreendeu. Aqui, em Daniel, um
grande temor caiu sobre os homens que estavam com ele, e fugiram para se
esconder; mas Daniel viu esta grande visão. É preciso um estado de espírito e
de comunhão com o pensamento de Deus. Existe algo como estar em comunhão com a
mente de Deus; se andarmos com Ele, conheceremos mais acerca disto. Mas não
estou querendo dizer que iremos ter revelações especiais em nossos dias como
teve Daniel.
O que Daniel viu, na visão,
poderia nos fazer lembrar do que João viu no primeiro capítulo de Apocalipse.
Ele viu o Senhor Jesus como Filho do Homem em trajes judiciais, e caiu aos Seus
pés como morto. Algo similar aconteceu a Daniel aqui (v. 8): “Fiquei, pois, eu
só, e vi esta grande visão, e não ficou força em mim: e transmudou-se em mim a
minha formosura em desmaio, e não retive força alguma". A glória da Pessoa
que falou a ele o prostrou. A maneira de termos uma clara ideia do que somos é
entrando na presença de Deus.
Versículo 10: "E eis que
uma mão me tocou, e fez que me movesse sobre os meus joelhos e sobre as palmas
das minhas mãos. E me disse: Daniel, homem mui desejado". Daniel, um velho
agora, é chamado de "homem muito amado" (Versão Almeida Atualizada).
Querido cristão, leia o livro de Daniel; leia como ele começou com um propósito
de coração em agradar ao Senhor, e como ele seguiu naquele caminho; então, veja
como ao final de sua jornada ele recebe este lindo testemunho - ele é chamado
de "homem muito amado". Ele não recebeu aquele título vivendo uma
vida descuidada, fazendo como faziam os babilônios; ele o recebeu como
resultado de um andar de fé - vivendo em separação para Deus.
UM TÍTULO DE GRADUAÇÃO
Lembro-me de ter conversado,
certa vez, com um grupo de jovens rapazes cristãos, todos almejando um título
de graduação (como "Ph.D.", que significa "Philosophiae
Doctor", etc.) em faculdades e universidades. Lembro-me de tê-los escutado
acerca dos diplomas e títulos que queriam conseguir. Vocês sabem, Daniel recebeu
um bom título de graduação. Deus ama a todos os Seus filhos. Existe uma maneira
em que Ele ama a cada um igualmente; mas existe também um amor de benevolência
- um amor de prazer - para com um filho obediente, e é isto o que encontramos
aqui: "Daniel, homem muito amado". Será que você gostaria de receber
um título de graduação como este - "H.M.A." ("Homem Muito
Amado")? Um título assim é recebido por andar no caminho de fé em
separação deste mundo. Como almejamos ver jovens cristãos seguindo a Cristo e
tomando uma posição por Cristo. Isto também serve para nós, mais velhos, que já
temos um pouco mais de tempo de jornada. O caminho feliz é vivermos vidas
devotadas a Cristo. É bom começar a vida cristã bem, com um propósito de
coração, não em nossa própria força, mas buscando a ajuda do Senhor para
vivermos para Ele. Não é bom apenas começar bem, mas também terminar bem.
Alguns começam bem, mas desviam-se do caminho - desviam-se quando ficam velhos.
Querido cristão, se Deus nos deixar aqui, que sejamos guardados de nos desviarmos,
desde a nossa juventude até à nossa velhice, seguindo adiante no caminho de
dependência e devoção, para podermos escutar no final da jornada, "homem
muito amado". É um título que deveríamos muito ambicionar - uma
"formatura" que seria para a glória dAquele que morreu por nós, e
também algo de que poderíamos desfrutar.
O TEMPO DE DEUS
Passemos agora ao versículo
12: "Então me disse: Não temas, Daniel". O Senhor Jesus falou estas
palavras, "Não temas", a alguns dos que eram Seus quando esteve aqui.
O Senhor nos deseja ter em Sua presença com o sentimento de que Ele é Deus, mas
Ele quer que fiquemos à vontade em Sua presença. "Não temas, Daniel,
porque desde o primeiro dia, em que aplicaste o teu coração a compreender e a
humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por
causa das tuas palavras." Este versículo é a chave para o fato, ou a razão
pela qual ele esteve esperando por três semanas inteiras. Todas as suas
palavras haviam sido ouvidas desde o princípio, desde o primeiro dia.
O versículo 13 acrescenta:
"Mas o príncipe do reino da Pérsia se pôs defronte de mim vinte e um dias,
e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei
ali com os reis da Pérsia". Por quê Deus permitiu que o mensageiro que foi
enviado com a resposta para Daniel fosse atrasado por três semanas inteiras?
Ele permitiu a demora, o atraso, para exercício da alma de Daniel. Às vezes
aguardamos no Senhor dia após dia, mês após mês, e talvez até ano após ano, e
não há sinal aparente de que nosso fardo esteja sendo removido. O apóstolo
Paulo foi arrebatado ao terceiro céu e viu coisas impossíveis de serem
colocadas em linguagem humana, e quando voltou foi-lhe dado um espinho na carne
para mantê-lo humilde. Ele rogou três vezes ao Senhor que o tirasse. A resposta
que recebeu não foi a que estava buscando, mas o satisfez. A resposta foi:
"A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na
fraqueza". E então Paulo disse: "De boa vontade pois me gloriarei nas
minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo" (2 Co 12:9).
ATRÁS DOS BASTIDORES: UM MUNDO
INVISÍVEL
Esse atraso nos leva para
atrás dos bastidores. Este décimo capítulo de Daniel é um dos poucos lugares
nas Escrituras que introduz você no mundo invisível. Há coisas que são
invisíveis aos nossos olhos naturais e que não são escutadas por nossos
ouvidos. Até mesmo nas coisas naturais há apenas uma pequena porcentagem do
espectro que podemos escutar com nossos ouvidos. O beija-flor tem um canto
maravilhoso, porém nossos ouvidos não são adequados para escutá-lo.
Há algo mais: Existe um mundo
invisível, e há poderes no mundo invisível. Lemos neste capítulo acerca de
Gabriel e Miguel. Estes são os dois únicos anjos cujos nomes são registrados,
porém lemos de anjos invisíveis que excedem o homem em força; são mensageiros
de Deus, cumprindo a Sua vontade. Eles exercem um domínio providencial neste
mundo; são "todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a
favor daqueles que hão de herdar a salvação" (Hb 1:14). Fico satisfeito em
saber que quando chegarmos na glória descobriremos que por muitas vezes fomos
cuidados pela ministração de anjos. Esse é o mundo no qual Deus opera,
invisível ao olho humano. A Palavra de Deus fala do querubim e do serafim; são
dois tipos de anjos. Miguel é apresentado como o arcanjo; quantos outros seres
celestiais existem não podemos dizer, e nem o sabemos. Um desses mensageiros,
que estava destinado a cumprir a ordem de Deus foi enviado com a resposta à
oração de Daniel. Foi enviado para levar esta maravilhosa profecia, e é uma
profecia das mais maravilhosas - incrédulos que têm estudado a história secular
afirmam que nenhum homem poderia tê-la escrito, e que ela deve ter sido escrita
depois de haver acontecido. Mas Daniel era profeta e não historiador; ele
recebeu a profecia e ela está repleta de detalhes minuciosos.
AS HOSTES ESPIRITUAIS DA
MALDADE
Há algo mais neste capítulo.
Além dos anjos que cumprem as ordens de Deus, existe uma força no mundo
invisível que é encabeçada por Satanás. Ele tem seus anjos - seus ministros -
que cumprem suas ordens. Talvez ele tenha organizado seu sistema imitando as
fileiras do governo de Deus. O Senhor Jesus disse: "E se Satanás expulsa a
Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá pois o seu reino?"
(Mt 12:26). Ele tem um sistema organizado, e estamos lendo de alguém que
resistiu ao mensageiro que trazia a mensagem a Daniel - "o príncipe do
reino da Pérsia". "E eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio
para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia" (Dn 10:13). Ele
estava em combate com um dos mensageiros de Satanás. Pouco sabia Ciro que
estava acontecendo uma batalha no mundo invisível, e que esta tinha a ver com o
seu reino. Satanás, se pudesse, buscava frustrar os planos de Deus. Ele sempre
se opõe àquilo que é conforme a mente de Deus. Um dos principais mensageiros
das hostes celestiais de Deus veio ajudar Daniel.
Encontramos Miguel mencionado
aqui, em Judas e no capítulo 12 de Apocalipse. Em cada lugar vemos que ele está
em conflito com Satanás ou seus emissários. Em Judas 9 lemos: "Mas o
arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo
de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O
Senhor te repreenda". Isto nos ensina algo que não nos seria possível
aprender do Antigo Testamento. Moisés estava no monte e ali morreu; e ali
ensina que foi Deus Quem o sepultou. Creio que ensina ter sido ele sepultado
por Deus, que usou Miguel, o arcanjo, como instrumento, ao qual o diabo
resistiu. O diabo, sem dúvida alguma, teria influenciado os filhos de Israel a
fazerem do sepulcro de Moisés um santuário ou lugar de peregrinação. Miguel
resistiu ao diabo.
Se você deseja conhecer algo
acerca da glória de Satanás, você poderá encontrar no capítulo 28 de Ezequiel,
onde ele é tipificado no Rei de Tiro; e não em Isaías 14 sob o nome de Lúcifer.
Lúcifer é uma representação, não de Satanás, mas do último rei do Império
Romano revivido. Satanás é um ser glorioso, e Miguel não pronuncia contra ele
juízo de maldição. Não fazemos idéia das forças postas em ordem de batalha
contra nós, mas podemos descansar sabendo que "mais são os que estão
conosco do que os que estão com eles" (2 Rs 6:16). Temos Alguém do nosso
lado, que é superior a todas as hostes de Satanás, mas não nos esqueçamos da
seriedade da confederação que se opõe ao nosso progresso. O Senhor disse ao
diabo: "Vai-te, Satanás" (Lc 4:8). Não creio que seja apropriado para
o filho Deus dizer isto; a nós é dito para resistirmos ao diabo. E como devemos
resistir a ele? Com a Palavra de Deus, assim como o Senhor resistiu a ele no
deserto. Ele resistiu ao diabo e o derrotou com estas duas palavras: "Está
escrito". Ele usou a Palavra de Deus, não para silenciar Satanás, mas como
um guia para Sua própria conduta; e se a usarmos como o guia para nossa
conduta, Satanás fugirá de nós.
O CONFLITO
Abram no capítulo 12 de
Apocalipse: "E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do
Sol" (esta mulher é Israel), "tendo a Lua debaixo dos seus pés, e uma
coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E estava grávida, e com dores de
parto, e gritava com ânsias de dar à luz. E viu-se outro sinal no céu; e eis
que era um grande dragão vermelho que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre
as suas cabeças sete diademas. E a sua cauda levou após si a terça parte das
estrelas do céu, e lançou-as sobre a Terra; e o dragão parou diante da mulher
que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho. E deu
à luz um filho, um Varão que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o
seu filho foi arrebatado para Deus e para o Seu trono" (vs.1-5).
Isto deve deixar claro que
este é o Senhor Jesus Cristo, o mesmo do Salmo 2. Note bem, temos Seu
nascimento e ascensão mostrados aqui, mas não Sua morte e ressurreição - elas
não são mencionadas aqui. "E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha
lugar preparado por Deus para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e
sessenta dias. E houve batalha no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra
o dragão, e batalhava o dragão e os seus anjos" (Ap 12:6-7). Aí
encontramos outra vez Miguel em conflito com os poderes das trevas. Encontramos
também que, no tempo do fim, Miguel se levantará e entrará outra vez em um
conflito. Alguns cristãos ficariam boquiabertos se lhes disséssemos que Satanás
e seus anjos caídos encontram-se no céu (não na presença de Deus), e que ele é
chamado de "príncipe das potestades do ar" (Ef 2:2). E há ainda os
"príncipes das trevas deste século", e as "hostes espirituais da
maldade, nos lugares celestiais" (Ef 6:12). O tempo se aproxima quando
eles serão expulsos e lançados na Terra.
Gostaria de chamar a sua
atenção para algo, no capítulo 12 de Apocalipse, em conexão com o nascimento do
Senhor Jesus Cristo. Temos ali um vislumbre da razão por quê Herodes procurou
matar o Senhor Jesus quando este nasceu. Herodes inquiriu dos magos acerca do
tempo em que a estrela aparecera, e então deu ordem para matar todas as
crianças de dois anos para baixo, procurando destruir o Senhor Jesus. Aquilo
parecia obra do iníquo Herodes, mas quando lemos o capítulo 12 de Apocalipse,
encontramos o sinistro poder que se movia por trás de Herodes. Isso nos mostra
algo do que acontecia atrás dos bastidores. Vemos que o dragão, Satanás, parou
diante da mulher pronto para devorar seu filho, tão logo este nascesse. Todo
este capítulo nos leva para atrás dos cenários e nos mostra um pouco da luta
que acontecia ali. E a luta segue também agora! Herodes foi o instrumento usado
por Satanás, e os espíritos maus em sua organização estão agora trabalhando nos
tronos dos governos. Quando os principais líderes governamentais reuniram-se
recentemente para uma conferência em Genebra, fiquei a pensar em quantos
espíritos maus de Satanás estariam ali. Essas coisas não são imaginárias, ou
contos de ficção; porém Deus levanta as cortinas aqui e ali e nos deixa ver
aquilo que é invisível.
NA PENEIRA DE SATANÁS
No livro de Jó vemos que as
tribulações que vieram sobre Jó, que pareciam ser as mesmas que vieram aos seus
vizinhos, eram, na verdade, a movimentação dos iníquos espíritos invisíveis.
Satanás não conhece nada acerca de amor, ou do poder do amor. Satanás podia
levantar o vendaval e influir nos raios; ele podia levantar ladrões e
salteadores, e tudo foi permitido por Deus. Mas aprendemos uma coisa
claramente, e isto é que nada pode acontecer a um filho de Deus sem a Sua
permissão.
O Senhor Jesus disse a Pedro:
"Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como
trigo". Ele não disse: 'Eu vou impedir que Satanás coloque você em sua
peneira', mas o que disse foi: "Eu roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça" (Lc 22:31-32). O Senhor sabia que era para o bem de Pedro;
portanto Pedro caiu na peneira de Satanás e este lhe deu uma boa sacudida.
Satanás estava fazendo o trabalho do Senhor para mostrar ao próprio Pedro como
este realmente era. Irmãos, é muito melhor aprendermos nossas lições na escola
de Deus em comunhão, do que aprendê-las na peneira de Satanás. Às vezes, para o
nosso bem, Deus permite que entremos na peneira de Satanás a fim de perdermos
nossa auto-confiança, e aprendermos que somos pequeninos e fracos como os grãos
de trigo que volteiam na peneira.
Daniel 10:20: "E disse:
Sabes porque eu vim a ti? Eu tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas;
e, saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia". O poder da Grécia era o
próximo a se levantar, e a se interessar pelo povo terrenal de Deus, os judeus.
E Satanás tinha seus instrumentos para trabalharem no trono do governo do reino
da Grécia.
Capítulo 11, versículo 1:
"Eu, pois, no primeiro ano de Dario, medo, levantei-me para o animar e
fortalecer". Voltemos a Daniel 6: Dario organizou seu governo e
estabeleceu cento e vinte príncipes; colocou três sobre eles e fez de Daniel o
chefe. Ali estava um dos filhos de Israel, um do povo terrenal de Deus, vivendo
no trono do governo dos Medos e Persas. Vemos no capítulo 11 que o anjo Miguel,
que levantou-se para fortalecer Daniel, também levantou-se para fortalecer
Dario. Encontramos Dario indo a Daniel e dizendo: "O teu Deus, a quem tu
continuamente serves, Ele te livrará" (Dn 6:16). E então, quando Dario se
levantou na manhã seguinte, clamou com voz triste: "Daniel, servo do Deus
vivo! Dar-se-ia o caso que o teu Deus, a Quem tu continuamente serves, tenha
podido livrar-te dos leões?" (Dn 6:20) - Sua fé havia diminuído naquela
noite. Quando ele descobre que Daniel está vivo e ileso, dá ordens e Daniel é
tirado da cova. Eles não haviam transgredido sua lei ao tirá-lo da cova. Eu
associo este capítulo 6 - o testemunho da fé de Dario e o interesse que
demonstrou pelo bem estar de Daniel - com o anjo que levantou-se para
fortalecer Daniel no capítulo 11, versículo 1.
Veja o livro de Ester: Quando
Hamã tornou-se cabeça do governo, ele redigiu e assinou o edito para que todos
os judeus fossem destruídos. Era Satanás trabalhando por trás dos cenários
contra o povo terrenal de Deus. Se o plano de Hamã tivesse dado certo, isto
significaria a ruína de toda a raça humana. Por trás de tudo estava a luta, não
apenas dos emissários de Satanás, mas do anjo de Deus. Estamos sempre aptos a
nos acomodar achando que as coisas são como as enxergamos; mas existem os poderes
do mundo invisível.
PARA SERMOS PRUDENTES
Amigos, estas coisas são uma
realidade! Não é para ficarmos desencorajados, mas tudo isso deveria nos fazer
mais prudentes enquanto passamos por este mundo. Que possamos aprender algo do
andar naquele espírito que caracterizou Daniel - reconhecendo nossa parte no
triste fracasso, intercedendo pelo povo de Deus e buscando graça para seguir
adiante em obediência à Sua Palavra. A obediência à Palavra de Deus, que nos
leva a um caminho de separação, é uma coisa. Mas, se somos levados a levantar
nossas cabeças buscando ser algo mais, então isto já é outro assunto. Afastemos
o orgulho para longe de nós. Devemos nós ficar desencorajados por causa dos
poderes das trevas? Poderão eles nos tocar? Pode ser que o Senhor permita a
Satanás tocar em nossos bens, e até em nossa carne, para o nosso próprio
benefício. Ele pode permitir, assim como fez a Pedro, que nós caiamos na
peneira de Satanás a fim de levarmos uma rude chacoalhada com o objetivo de
ficarmos livres do orgulho e da auto-confiança. Mas será que Satanás poderá
verdadeiramente nos tocar?
"Porque estou certo de
que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as
potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem
alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus nosso Senhor" (Rm 8:38). Entendo que "principados" e
"potestades" referem-se aos poderes invisíveis que estão em ordem de
batalha contra nós. Porém, nada, não importa quão grande seja - inclusive
Satanás - poderá jamais tocar a vida e segurança de um santo de Deus. E Deus
não vai deixar que Satanás ou seus emissários ponham a mão em você sem a Sua
permissão. Ele pode até permitir, mas será sempre para o seu bem. Lembre-se de
que pode acontecer com você o mesmo que pode acontecer com seu vizinho
incrédulo; mas, como podemos ver no livro de Jó, com um filho de Deus será de
um caráter diferente daquilo que acontece com o vizinho incrédulo.
Busquemos graça para termos
propósito de coração e devoção, se ainda formos deixados aqui, para sermos
guardados no caminho da fé até o momento em que ouviremos o chamado. Não falta
muito!
Paul Wilson: Palestra a jovens
cristãos em Oak Park, Illinois, Estados Unidos - Agosto/1955.